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BLOG DO CONSA A PRIVACIDADE DE ELIS

Na crônica da semana Hélio Consolaro usa a descontração para abordar as várias vertentes da “tal privacidade”

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Como uma garotinha de cinco anos puxou papo de privacidade? Morava numa casa grande, chegou da creche com esse papo cabeça de exigir vida reservada. Com certeza, na escola, discutiram o assunto. Como o casal tinha vários filhos, cada dois dormiam num quarto. Talvez ela se referisse àquela numerosa irmandade, queria ser filha única. Tão nova e com crise existencial.

 

O papo rolou na mesa do almoço de domingo, continuou na sala de televisão. Elis está mesmo esquentada com a tal privacidade. Até que a mãe perguntou:

 

- Explique o que é privacidade?

 

- Ter pai e mãe só pra mim! Como a Regina!

 

Regina era a coleguinha de escola, filha única.

 

A mãe assustou-se e respondeu:

 

- Isso não é privacidade, é egoísmo.

 

E continuou:

 

- Na próxima reunião de pais, vou conversar com a tia para explicar melhor o que é privacidade: ter um canto só seu. 

 

O pai fez uma cara de ponto de interrogação, querendo dizer que ser filha única e ter um canto só seu significam a mesma coisa.

 

Mãe de Elis se lembrou da discussão que teve com a mãe dela, avó da Elis, que não concordava em deixar criança na creche. E ela respondeu:

 

- Não quero criança birrenta à beira de minha saia. Criança de creche é mais social, fala melhor!

 

Pronto. Todos se esqueceram da Elis.

 

- Cadê a Elis? - perguntou o pai.

 

Não ficou um canto da casa sem investigação. Pai, mãe, irmãos, irmãs, todos à busca de Elis.

 

- Vai ver que ela foi se encontrar com a tal privacidade e foram passear na casa da tia Lalá - ironizou o irmão mais velho.

 

Tia Lalá morava no mesmo quarteirão. E todos correram para lá. Nada!

 

Luísa, companheira de quarto de Elis se jogou na cama em prantos, gritando:

 

- Elis! Elis! 

 

Brigavam sempre, mas eram sempre solidárias na hora do sofrimento, como sempre acontece entre os irmãos de uma família.

 

Luísa resolveu pegar um travesseiro no guarda-roupa. Quando abriu a porta, ecoou um grito de filme de terror em toda casa. Todos ficaram gelados. O pior aconteceu...

 

No quarto de Luísa-Elis, encontram Luísa no chão, quase desmaiada. Não conseguia falar. Dentro do guarda-roupa, Elis encolhida, com cara assustada, balbuciou:

 

- Nem no guarda-roupa, não tenho privacidade nessa casa!

 

Tal fato passou a ser contado toda vez que a família se reúne, até ganhou um título: A privacidade da Elis.

 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor


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