Comecemos pela falta de privacidade em sua própria casa, no caso, apartamento; se fosse casa térrea, o pescoço por cima do muro também espiona a vida alheia. A vizinha estava de sutiã, nem era topless. Que puritanismo! Será que a evangélica pegou o marido com o binóculo na cara? Ou a fama da gostosona corria trecho?
Mas também não era sutiã: a confeiteira Juliana Kulpa contou que não tem o costume de andar com roupas íntimas pela casa, e o que os vizinhos podem ter visto foi um top e shorts de academia. "Eu imagino que tenha sido no dia que eu fui fazer uma caminhada e, em seguida, fiz uma faxina". Não se sabe se a limpeza foi realizada sob o som de um rap.
A reclamante, que escreveu o bilhete, é evangélica. Não vamos crucificá-la por causa disso, as mulheres são como são em qualquer religião: ciumentas. Certamente a confeiteira de 25 anos era bem mais bonita, a musa do condomínio. Uma visão para se começar bem o dia.
Só faltou a crente dizer que a vizinha seria culpada caso seu marido fosse assediá-la ou estuprá-la. Um pensamento machista em moda na atualidade.
A melhor parte da narrativa é a resposta aos questionamentos nas redes sociais da mulher de sutiã. Ela é como o Consa, qualquer coisinha põe no blog, no Face, Instagram e Twitter. Contou tudo para todo mundo e postou foto, divulgou até o bilhete que recebeu na caixa postal do condomínio. Aproveitou para fazer marketing.
"A única coisa que me incomodou um pouco é que muita gente perguntou no Facebook sobre o que o meu marido achava disso. Eu tentava responder: meu marido não acha nada, o corpo é meu. Quem está expondo o corpo sou eu. Ele não tem nada a ver'". Só faltou a confeiteira dizer: lugar da mulher é onde ela quiser.
Tome esse chute na canela, seu quadradão! O mundo mudou e você não percebeu.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor