A comemoração da Independência do Brasil (7 de setembro) está próxima e o tema é oportuno. Bolsonaro se elegeu com dinheiro e apoio do mercado e agora não quer pagar a fatura. Quem é o mercado? É a ideologia do lucro a qualquer preço, no entendimento dos liberais e neoliberais, pobre não é fruto da injustiça social, gente que o mercado no incluiu para usufruir as riquezas do país. Para o mercado pobre é um sujeito incompetente, que não ficou rico por preguiça, indolência, safadeza. Responsabilidade social das empresas não é papo de liberal, mercado e outros derivados.
Durante o conturbado processo eleitoral de 2018, Bolsonaro amarrou a camisa com o mercado, fechou acordo com este povo, por isso pôs lá como ministro da Economia o Sr. Paulo Guedes, que é pós-graduado em liberalismo, com estágio no Chile durante o governo do ditador Augusto Pinochet, mas foi obrigado a deixar a cartilha do mercado com a pandemia. Parece demagogia, mas não é, se não tivesse havido o coronavírus a situação econômica do país estaria pior para a pobreza.
Com o auxílio emergencial, uma espécie Bolsa Família piorado, sem contrapartida por quem o recebe, Bolsonaro passou a ser um pouquinho mais amado, cresceu na pesquisa do Datafolha. Como assanhou nele a vontade de reeleição, quer presidente de novo, quer continuar a distribuir o auxílio emergencial, nada de respeitar o teto de gastos, limite votado na época de Temer pelo Congresso Nacional. Jair está virando comunista.
Bolsonaro anda pedindo mais patriotismo ao mercado. Quem é neoliberal e os adversários dele, partidários da inclusão social (os comunistas), estão rindo do presidente.
O mercado não tem pátria, ele voa para onde o lucro é garantido. A China é um exemplo. Veja o que falou o ex-ministro da Fazenda do governo Sarney, Mailson da Nóbrega, que deixou o Brasil na miséria: “Não conheço nenhum país do mundo que reaja aos alertas do mercado evocando o patriotismo. É uma novidade”, ironizou Maílson. “Esta ideia é absolutamente estapafúrdia. Patriotismo é coisa de sociedades, militares, pessoas. Não é do setor privado que empreende, que quer assumir risco.” A última frase do ex-ministro precisa ser corrigida: Não é do setor privado [grandes corporações] que empreende, que NÃO quer assumir riscos.
O dilema está criado. Tiraram o PT porque era comunista. Agora o Jair está querendo ser comuna também, está dando as costas para os neoliberais. Não tem competência para tanto. O FMI certamente estará de volta.
* Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Araçatuba-SP