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CNPJ VALE MAIS QUE CPF?

Uma leitura realista sobre o momento que vivenciamos, entre pandemia e uma série de interesses

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A morte de uma pessoa atacada pelo coronavírus é uma tragédia para o seu pessoal: família, amigos, trabalho, etc, enquanto para a estatística trata-se de apenas mais um número para ser somado. Ainda bem que não morreu um CNPJ.

Depois desse parágrafo, resta pouco a falar em defesa do governo brasileiro. Cada morto passa a não ter feição e nem história, apenas um cadáver, um CPF morto. Trata-se de mais um número a ser contabilizado no final da tarde. Esperto, João Dória, governador de São Paulo, considera importante o luto da família do falecido.

Para Bolsonaro, Paulo Guedes, Trump, a pandemia devia ser um fenômeno para passar despercebido, como se fosse uma gripezinha, ignorada pelos governantes, pois para eles as pessoas vão morrer mesmo em qualquer dia, que morram logo, então. Não podem morrer os CNPJs.

A humanidade no século 20, depois de duas guerras e uma queda econômica em 1929, passou a pensar mais holisticamente, surgiu a Organização das Nações Unidas para a construção da paz, descobriu-se que tudo funciona como um todo, interligado. Patriotismo exacerbado é sinal de guerra. Perdemos um pouco da barbárie.

É chover no molhado falar de direitos humanos para quem valoriza muito o CNPJ. Para certas pessoas jurídicas, a pessoa física deve ser respeitada quando os humanos forem direitos, ou seja, não basta ser uma pessoa. Se o CPF não estiver dentro sistema, obediente, o humano não existe.

Há gente que não tem vergonha em se autodenominar "cidadão de bem", dinheiro gordo no banco, câmbio de carro automático. É o mesmo fariseu que se dizia salvo, os demais todos estão condenados, são do mal. Há igrejas atuais que falam isso ainda.

Como escreveu o escritor Máximo Gorki: não passamos de um saco de tripas, mas há gente por aí que desvaloriza ainda mais o CPF.

* Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP.

 


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