Vivemos nestes dias um paradoxo, a reinauguração do Museu de Língua Portuguesa na cidade de São Paulo promovida pelo governo estadual e o incêndio da Cinemateca Brasileira (um lugar de dez mil metros quadrados), também em São Paulo, promovido pelo governo federal. Lugar onde se guardava com zelo (até Bolsonaro tomar posse) os filmes antigos feitos no Brasil por brasileiros.
- Como? O presidente incendiou o Museu do Cinema? - alguém pode perguntar.
Sim! Não por ação direta. Bolsonaro não saiu à noite jogando gasolina e riscando fósforo, como se fosse Nero incendiado Roma, nem mandou milicianos fazer isso, mas abandonou o lugar, não administrou aquele equipamento federal de cultura.
Todo mundo avisou com insistência: "cuida da cinemateca, presidente, senão vai pegar fogo". Vereadores, deputados, governador, artistas, povo em geral, mas ele dava de ombros. Uma luta insana para sensibilizar o paquiderme. Agora, aconteceu.
VEJA VÍDEO DA REINAUGURAÇÃO DO MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Enquanto o governo estadual inaugurava, o federal incendiava. Por isso, Bolsonaro nem foi na inauguração promovida pelo governador João Dória. Havia presidentes de outros países, mas assim mesmo desconsiderou o evento como mandatário maior do país. Carimbou o seu desprezo pela cultura, característica de todo governo que também despreza a democracia.
Será que o governo federal, sob o descomando de Bolsonaro, vai fazer o mesmo? Restaurar a Cinemateca Brasileira? O impossível pode acontecer?
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP