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VAMOS FALAR DE ÍNDIO IANOMÂMI E CAINGANGUE; GARIMPEIRO E GRILEIRO

O professor, jornalista e blogueiro, Hélio Consolaro, volta a abordar a causa indígena na coluna Blog do Consa. Não poderia ser diferente, pois o assunto pede muito debate. Vale a pena a leitura!

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Este cronista se dispôs a escrever sobre os índios ianomâmis e os garimpeiros. Tarefa difícil. Hoje, estou mais do lado dos explorados, mas em minhas veias corre o sangue invasor.

 

Saí para buscar subsídios in loco. Dei uma volta na cidade e encontrei vários logradouros com nomes indígenas. É bom lembrar que o próprio nome Araçatuba tem essa origem.

 

Encontrei também o nome do Marechal Rondon: na rodovia, no museu e supermercados. Ele foi um militar com sangue de índio, sertanista e fundador do SPI - Serviço de Proteção ao Índio - órgão precursor da Funai.

 

Araçatuba não tem um fundador, surgiu em torno de uma estação de trem. Temos os pioneiros. Os negros, primeiros ferroviários, foram os trabalhadores a favor da colonização comandada por uma companhia de capital misto (nacional e franco-belga).

 

Lá no Estado do Roraima, cujo nome foi emprestado da língua ianomâmi: serra verde, os garimpeiros são os desbravadores, na região Noroeste era a estrada de ferro, depois grileiros.

 

Os limpa-trilhos da máquina de ferro eram contaminados por camisas de gente que tinha varíola para que houvesse uma mortandade de caingangues pela contaminação. Antecipação da guerra biológica. A vida indígena e mesmo a dos brancos e negros valia quase nada.

 

A pracinha (está mais para arvoredo), na rua Anita Garibaldi, ao lado da Secretaria Municipal de Cultura (centro de Araçatuba), foi local de conflito armado entre caingangues, os invasores brancos e negros.

 

Em cada pedaço de chão que pisamos em Araçatuba, em passado remoto, talvez tenha sido regado por sangue de índio e também dos desbravadores. Talvez, caro leitor, você esteja pisando agora numa poça de sangue. Nossa cidade, como outras da região, nasceu sob a égide da violência.

 

Se em Roraima há os garimpeiros, aqui, na Noroeste paulista, havia os grileiros (falsificadores de títulos de terra). A saga foi a mesma, matava-se só para ver de que lado a pessoa ia cair.

 

E porque os grileiros de ontem não são tidos como bandidos, a exemplo dos garimpeiros de hoje? Perante Deus, a humanidade e a história ambos são bandidos. Perante as leis humanas, não.

 

"Reserva indígena" foi um expediente criado pelo Marechal Rondon na colonização de Mato Grosso. A reserva dos ianomâmis foi criada pelo ex-presidente Fernando Collor. O Brasil inteiro era uma reserva indígena em 1500.

 

Na época do desbravamento de Araçatuba, tudo era permitido, não havia nada regulamentado, nem reserva indígena. Éramos uma terra sem lei. Hoje, os garimpeiros são considerados gente fora da lei porque estão explorando o ouro numa reserva ianomâmi. Há legislação regulamentando.

 

Todos os brasileiros hoje veem o conflito em Roraima como seu, como uma história nossa.  Principalmente os que moram em Araçatuba.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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