Já estive pensando que chamar o ser humano de macaco é desdouro para o símio. E pelas fotos e vídeos, percebo que entre quem nos chama de macacos não tem só olhos azuis.
Virou moda "los hermanos" nos estádios da América Latina chamar os brasileiros de macacos quando perdem a partida para um de nossos times: fazendo micagens e descascando bananas, tentando nos desumanizar.
A Taça Libertadores da América faz os países do continente se conhecerem melhor pelo futebol, já que a língua nos separa.
Descobrimos até como são as leis de cada país. No Brasil, o argentino preconceituoso foi preso; noutros países, o criminoso passa ileso. E a Conmebol, que organiza o certame, ainda não se pronunciou diante de tanta diversidade.
No Brasil, mais de 50% de sua população são afrodescendentes, na Argentina, o percentual não chega a dois dígitos. Chamar alguém de macaco é um hábito do tempo da escravidão, é uma forma pejorativa de denominar os negros.
Colômbia também tem a população negra em grande quantidade. Lembre-se de Rincon. O restante do continente tem população pobre descendente de indígena, enquanto no Brasil são negros. Tivemos Pelé; a Argentina, Maradona.
No Brasil, vivemos contradições no futebol, como é o caso do Grêmio, Porto Alegre, cuja torcida se revela bastante racista, ter um treinador negro e militante contra o racismo, Roger Machado. Ele disse em entrevista que o presidente Bolsonaro estimula o racismo entre nós.
Está na hora de mudar essa prosa. A Conmebol precisa forçar a mudança deste costume horrível de torcedores chamar os brasileiros de macacos nos jogos da Libertadores.
* Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.