Há muito, a população compra, principalmente a mais pobre, coisas que não têm o sabor natural da fruta e nem o cheiro dela. Gelatina, suco, etc. E está escrito na embalagem que o sabor é artificial, com letras miúdas, mas ninguém lê. Ou o consumidor sabe disso, como também é consciente de que alimento orgânico não é para o seu bico.
No final do ano passado (2021), recolheram dos supermercados várias marcas de azeite que eram vendidos como extravirgem, com preço de conteúdo puro, mas era misturado com óleo de soja. Há as marcas de azeite que fazem isso, porém, declarado no rótulo e com preço menor.
O McDonald, querendo faturar, vendia gato por lebre, disse que havia picanha (a carne mais cara) num novo lançamento de lanche. Pelo jeito, este corte de carne nem passava perto da cozinha da lanchonete. Tudo falso.
Após "McPicanha sem picanha", sanduíche da marca "Whopper Costela" virou alvo de reclamações dos consumidores por ter apenas aroma de costela (carne mais barata). Certamente, o consumidor queria que o lanche viesse acompanhado também do osso da costela. Tudo falso.
Tal denúncia ganhou tanta repercussão que o Senado vai investigar o caso. A câmara alta, na falta de assunto, pegou a pauta da câmara baixa. Se fosse em Araçatuba, o caso ia para a Câmara Municipal, pois lá tem um vereador entendido de sanduíche, o Dunga.
Lá em casa, hábito pandêmico, quem faz a compra da casa sou eu. Como cronista, observador do comportamento humano, espio os carrinhos lotados dos outros na hora de passar pelo caixa. Quanto menor a renda do comprador (baixo poder aquisitivo tem cara), mais mercadorias de sabores artificiais.
Quem nunca comeu churrasquinho de gato como se fosse de carne bovina? Povão come, lambe os beiços. Não que seja mesmo carne de gato, mas também não posso garantir que seja de gado. Muda-se apenas uma consoante.
Espetinho assado na calçada, onde o cara faz bico com uma churrasqueira portátil, um carro bem usado estacionado do lado. De repente, os gatos somem da vizinhança. É o mercado do "espetinho miau". A carne mia ao ser mordida. Desconfie.
A venda de coisas batizadas é uma prática dos pequenos empresários, mas ultimamente até as multinacionais estão aderindo a esse hábito, como a McDonald. Meu amigo quiboeiro, Heitor Gomes, que vende materiais de limpeza, batiza declaradamente a Qboa que vende, não esconde, assim mesmo todo mundo fala “Que boa!”. Não tem jeito de dizer “Qruim”, pois é mesmo água sanitária.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor