Terça-feira, 8 de março, é Dia da Mulher ou Dia das Mulheres? Há gente que faz diferença, vai buscar os detalhes de significados dentre o plural e o singular.
Mais importante do isso é perguntar: você faz a homenagem ao mulherio para vender mais seu produto em março, como se fosse um Dia das Mães? Nem pensa em libertação, empoderamento, coisa e tal?
Não estou aqui para acusar ninguém, porque eu também tenho muito que melhorar nesse aspecto da vida. Conheci um livro da escritora Ruth Manus, ouvindo rádio. Adquiri-lo foi fácil, 20 minutos depois estava em minhas mãos. Ela escreve livros cujos títulos são uma frase, como o livro que li: "Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas", editora Sextante.
Aquela fada com quem nos casamos ou juntamos virou uma bruxa insuportável. Quem fabricou a megera? Sem colocar o dedo em riste, foi o marido, o companheiro, porque ela está exausta, tudo cai nas costas dela. Só se você mora com uma dondoca...
Então, caro leitor, precisamos tratar a mulher que temos em casa como dondoca, porque escrava, às vezes, ela já é. Além de trabalhar fora, ela precisa tratar o marido como se fosse um rei. Ele não é tão culpado, porque a mãe dele o acostumou assim, então a mulher dele ocupa o lugar da mãe servidora.
Este é o quinto livro de Ruth Manus e nele estão explícitas qualidades de rigor da escrita e uma leitura que avança sem empecilhos, flui. A escritora é clara em suas proposições e provocações, tornando a leitora (ou leitor) cúmplice, jamais afastando-a do que escreve.
Nós, homens, nos reunimos com nossos amigos no happy hour. As nossas mulheres fazem isso, ela sai sozinha com suas amigas? Ela grita: "Hoje o dia é meu!", por acaso? Ela tem um tempo só dela? Ou o tempo dela geralmente é do marido, dos filhos e da família...
A Helena é meio ‘amélia’ e não há quem a mude aos 73 anos, talvez as mulheres jovens já estejam mais moderninhas. Serviços domésticos, quando temos recursos, terceirizamos a submissão feminina contratando uma empregada. Senão, ajudamos pouco, quando isso acontece. Não é possível mudar de 8 para 80, mas o casal pode chegar a 40 ou 60.
Se os maridos são machistas em casa, certamente têm o mesmo comportamento no serviço como chefe ou colega de trabalho. Não é possível ser diferente noutro lugar.
Ruth Manus não deixa a mulher se sentir culpada, ela propõe a luta: “As coisas não estão melhorando. Somos nós que estamos lutando. São as mulheres que diariamente batalham pelos seus direitos, pela igualdade, pela segurança, pela liberdade. As coisas não melhoram sozinhas”.
Apesar de advogada e professora de Direito, ela mantém paralelamente uma carreira como cronista e escritora, por isso sua linguagem é acessível a todos.
Faço-lhe, cara leitora (ou leitor), um convite à leitura de "Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas", 192 páginas, 2019, R$ 30,00. Ler liberta, empodera.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor