Durante meus quase 40 anos de magistério, aprendi que o professor não deve abraçar apenas uma teoria pedagógica e aplicá-la a ferro e fogo, mas pegar o que cada corrente oferece de bom, tornando o seu ensino personalizado.
Na política econômica de um país se faz a mesma coisa, não deve se alinhar na diplomacia e nem no sistema econômico. As experiências comunistas, capitalistas, socialistas, social-democratas devem ser levadas em consideração. Não fazer governo de uma ideologia só. É o que fazem os países nórdicos.
E quando um governo assume numa democracia, nada de desprezar tudo que outro fez, melhore, sem jogar a experiência acumulada fora. Assim fez o PT, quando assumiu a presidência da República do PSDB. Não tentou inventar a roda, como se ela não existisse.
O governo Bolsonaro é (era pelo menos) uma aliança entre a direita radical, da qual participa o presidente, a direita tradicional que não acreditava em seus candidatos e os economistas neoliberais. Nisso tudo, há algumas particularidades como os militares e Sérgio Moro.
O neoliberais, seguidores e formados pela Universidade de Chicago (ligados ao sistema financeiro e bolsas de valores), liderados por Paulo Guedes, assumiram o ministério da Economia babando vontades neoliberais.
Não aprenderam nada das outras correntes, só seguiam a cartilha: estado mínimo, equilíbrio fiscal, nada de investimento social. Tendo o funcionário público como a desgraça.
Aí veio a catástrofe: coronavírus, que exige um estado forte. Danou-se. Paulo Guedes e seus seguidores, inclusive no Banco Central, não sabem nada de como enfrentar crises. Aliás, o neoliberalismo não ensina isso. Que o diga o presidente Franklin Roosevelt em 1929.
Ficaram paralisados, o negócio era deixar todo mundo morrer, salve-se quem puder, como prega a teoria neoliberal, deixando os políticos apoiadores do Governo Bolsonaro, inclusive os liberais, com as calças na mão. Tem a questão da reeleição, coisa e tal.
Parece que Paulo Guedes e sua turma estão se adaptando à nova realidade, porque todos estão falando, inclusive os economistas da Rede Globo, que precisa abandonar o liberalismo na hora de crise, ele não dá conta.
Se não for assim, o ministro e sua turma vão ser substituídos.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.