Dizem que o brasileiro tem complexo de vira-lata, se acha um coitado. Tudo que existe no mundo é bom, tudo que é brasileiro não presta, principalmente o país onde mora.
Para os pregadores do complexo de vira-lata, o povo brasileiro não tem identidade, Deus deu um território bom para o Brasil (embora poucos sejam donos dele), mas colocou aqui um povinho desclassificado.
Hoje, 2022, temos mais de quatro milhões de brasileiros trabalhando fora porque a economia não criou oportunidades de emprego no Brasil. Contrariando a desqualificação do brasileiro, são os trabalhadores mais versáteis no mercado estrangeiro.
Esse amor ao lugar onde mora, esse sentimento de pertencer ao torrão, não se promove com patriotada. Ele é feito com muita cultura, educação e economia inclusiva.
Na época do presidente Lula, houve um resgate do orgulho de nossa brasilidade, nossos emigrantes descobriram que a economia ficou mais inclusiva, até voltaram. Houve um slogan: “Brasileiro não desiste nunca”! Valoriza a democracia e responderá nas urnas.
A LANCHA QUE CHAMAVA JESUS
Viajei muito com o perueiro Mané até Penápolis, para fazer faculdade lá, fiz isso por dois anos. Isso foi em 1969-70, motor da kombi era fraquinho, na subida de Coroados, rodovia Marechal Rondon, pista simples, o motor gemia com os 12 passageiros.
Ela foi apelidada de "Jesus me chama", pois era costume, em acidentes com a kombi VW 1.200, não sobreviver nenhum passageiro.
Nas primeiras notícias da tragédia na cidade de Capitólio (MG), vi que a lancha onde estavam as dez vítimas tinha o nome de Jesus. Lembrei-me da perua kombi.
Por que aquela lancha batizada com o nome de Jesus foi escolhida para receber o impacto do paredão descolado? Você, caro leitor, vai me dizer que foi por acaso; mas o acaso, às vezes, tem causas desconhecidas.
Será que o seu dono usou o santo nome para veículo mundano? Não usar o nome de Deus (ou filho dele) em vão, diz o mandamento.
Naveguei pela internet, sem me afogar, e descobri no jornal O Tempo (MG) alguns detalhes da tragédia. A família vítima (dez mortos), antes de embarcar, trocou de balsa para veranear com uma balsa mais segura: Vamos com Jesus! E zarparam. O marketing deu certo.
Dessa vez Jesus chamou mesmo!
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor