O palácio governamental da Argentina, em Buenos Aires, é chamado de Casa Rosada, rosada é a cor da pele dos caucasianos. Por lá, nem um moreninho ousou querer morar no palácio governamental.
O palácio de Whashington, onde fica Donald Trump, se chama Casa Branca. Dessa vez, é inquilino da casa, com contrato de quatro anos (e basta!), um branco descascado.
Por que chamar governantes de inquilinos? Numa democracia, eles passam pelo poder público, ficam por um período, conforme as leis. Diferentemente da monarquia cuja nobreza se declara dona do país.
Os norte-americanos puseram por oito anos um negro para ser o 44º inquilino da Casa Branca, o afrodescendente Barack Obama, mas ele não pintou a casa de preto. Fez um papel de bom inquilino, mostrou que preto também é gente, não radicalizou ao ponto de pintar a casa com a cor de sua pele.
A Casa Branca para ser branca tem uma longa história, mas quem fez as fundações foram escravos: "um diário conservado pelo comissário de construções do Distrito de Columbia registra que os apoios da residência principal foram escavados por escravos [negros]. As fundações foram, igualmente, construídas por trabalho escravo. Muitos dos trabalhos restantes no edifício foram realizados por imigrantes".
No mínimo, a casa devia ser mulata. Não existe uma árvore no Brasil chamada de pau-mulato... Mas nos Estados Unidos, não houve a miscigenação como ocorreu no Brasil. Os donos de escravos não estupravam as escravas, principalmente as mucamas. Lá nos EUA quem é branco é branco, quem é preto é preto.
Mas os brancos andam dizendo que a Casa Branca não é preta porque os negros são minoria, 12% da população. Como o "consciente coletivo" anda derrubando as estátuas ligadas à colonização, principalmente personagens históricos, escravocratas no mundo ocidental, por que não pintar a Casa Branca de preto?
Já está começando: A prefeita de Washington, a democrata Muriel Bowser, mandou nesta sexta-feira (05/06/2020) que funcionários da prefeitura pintassem a frase “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam) em uma avenida em frente à Casa Branca, com a ajuda de ativistas.
A própria Bowser compartilhou um vídeo no Twitter em que a inscrição aparece sendo pintada. A prefeita também anunciou no começo desta tarde que a 16.ª avenida, onde as palavras foram colocadas, passará a se chamar "Black Lives Matter Plaza".
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP