A vida precisa ser levada na maciota. Parece filosofia de para-choques de caminhão. Nem sei se tal máquina chamada caminhão, na atualidade, continua tendo lugar para pôr provérbios. Se não, caro leitor, leve em consideração meus anos avançados e me perdoe.
Nestes tempos de antagonismos à flor da pele, precisamos levar em consideração outros valores, não ficarmos aos rés do chão da política. Não sejamos como aquelas cidades pequenas em eleição municipal, época em que amigos não se conversam.
Eu escrevo bastante sobre política, mas não falo quase nada nas rodas de conversa, nem fico respondendo a quem faz comentários sobre meus textos nas redes sociais, podem discordar de mim à vontade. A verdade não é monopólio de ninguém, mora um pouco de cada lado.
Mas há gente que não tem discernimento. É prestador de serviços ou comerciante, puxa assunto de política com cliente, tomando partido. Quando é o cliente que puxa o assunto, a melhor saída é desconversar.
Eu já mudei de barbearia por causa disso. Não porque soube que o profissional é isso ou aquilo, mas ficava fazendo provocações durante a execução do serviço.
Quando compartilho certas matérias no Whatsaap ou Messenger, não posto textos que possam contrariar o receptor. Respeito a posição da criatura. Já disse a amigos que, se quisesse continuar a nossa amizade, que não conversássemos sobre política.
Aqueles livros de "como conquistar amigos" dá uma grande lição: não discuta, não crie polaridade, é a melhor forma de convencer e ganhar uma pessoa. Isso também vale para o professor em sala de aula.
Comprei recentemente uma máquina lava-jato para eu lavar o quintal de minha casa com mais facilidade, a menor delas, fabricada em Pompeia (SP), aqui na região do Oeste Paulista. Nessa bagunça promovida pelo Bolsonaro em 7 de Setembro de 2021, com concentração em São Paulo, vi no jornal on-line que a empresa fabricante da maquininha lava-jato estava alugando ônibus em Pompeia, dando camisetas da seleção brasileira e pagando R$100,00 por pessoa para levar "bolsonaristas" à avenida Paulista. Até recomendava a marca para amigos e continuo a fazê-lo, mas com menos entusiasmo.
Outro caso. Aconteceu com dois empresários gaúchos, donos de empacotadoras de arroz. Um xingou no Twitter quem usa máscara e toma vacina; enquanto a outra marca pôs uma máscara na figura do tiozinho que aparece no pacote. Duas posições: irresponsabilidade e responsabilidade. Ainda bem que a Helena gosta de cozinhar o Tio João.
A sociedade é plural, obrigatoriamente nos relacionamos com pessoas de variadas posições políticas, antibolsonarista compra e vende de bolsonarista e vice-versa. Para que vivamos na maciota é preciso aceitar o outro como ele é, viver e deixar o outro viver também, senão a vida vira um inferno.
Como sempre dizia o saudoso padre Lauro Franco: "Hélio, não deixe a política tomar conta de sua vida". Os caminhoneiros já estão começando a aprender a lição.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.