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REFLEXÃO DO CONSA POR QUE NÃO SÓ LER OS CLÁSSICOS?

Declarou Edgar Morin, filósofo francês, ex-ministro da Educação naquele país, que aprendeu mais lendo os livros de menor tiragem do que best-sellers ou clássicos

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A literatura, das artes, é a mais ensimesmada, não atrai multidão. E o protagonista, o escritor, é um tímido, recatado. Há a questão da obra que já circulou por várias mídias (papiro, pergaminho), foi para o livro e agora já está no e-book. Deixemos tais particularidades, entremos noutras.

 

Acabei de ler João Belo, de Manuel Pina, memórias de um homem simples, aeroviário aposentado, português, que vive entre nós atualmente, 80 anos, frequenta o Grupo Experimental (GE) da Academia Araçatubense de Letras (AAL). E estou lendo "O canto do povo de um lugar", de Tito Damazo, confrade da AAL.

 

Se eu fosse um desses pernósticos que diz não perder tempo com autor ou livro chinfrim, estaria lendo clássicos ou best-sellers, os dois aqui da cidade ficariam sem ser lidos. Leio também gente miúda, que ombreia comigo nas lides do dia a dia.

 

Vou mais fundo nessa história. Quando se lançam livros em Araçatuba, todos os convidados querem tirar fotos com o autor, sair nas redes sociais. Mas se veem poucas linhas sobre o conteúdo do livro. Por quê? Porque poucos leram a obra. Tomara que estejam lendo os clássicos.

 

Já que estamos falando de povo de um lugar, uma cidade, estado ou país só há um sistema literário quando houver no lugar o tripé: leitores, editora e escritores. Em Araçatuba, por exemplo, faltam os leitores. Não que seja uma cidade analfabeta, não! É uma cidade que não prestigia seus escritores. Nem os poucos livros vendidos em noites de autógrafos são lidos.

 

O amigo do escritor compra o livro numa noite de lançamento, chegando em casa guarda-o na estante, lamentando: "Ter amigos intelectuais só dá gastos!"

 

Dizem os entendidos que livro que não é lido nunca foi livro. Estante de guardar livros é cemitério bibliográfico. Livro precisa andar, ser emprestado.

 

Vivi e testemunhei um fato eloquente do desprestígio do autor local. No ano 2000, o professor de Inglês Arthur Lopes juntou um dinheirinho dos bacanas da cidade, gente de bens, e reformou a praça João Pessoa (a praça da Caixa d´Água) e lhe deu um outro nome: "A praça dos 500 anos". Fez um belo trabalho.

 

Vai pra cá, vai pra lá, professor Arhur resolveu dar nome de escritor para cada árvore da praça, com plaquinha e tudo. Quase todos os famosos escritores brasileiros foram homenageados.

 

Na época, este cronista perguntou num de seus textos se não havia sobrado um pé de mato, nem que fosse uma desprestigiada guaxuma, para se pôr o nome de um escritor da cidade.

 

Ler os clássicos é necessário porque são referência, fazem parte da formação de nossa civilização, mas sem exagero. Há muitos livros novos à procura de seus olhos, caro leitor.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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