Caro leitor, eu tive uma sexta-feira (24) muito boa. Vermelha. Sextei em Andradina (SP), cidade de Moura Andrade, Rei do Gado. Pouco mais de 200km de Araçatuba, entre ida e volta.
De manhã, discussão política entre iguais, porque se fosse entre desiguais teria saído pescoção, pois a política está excessivamente polarizada. Os grupos estão se organizando para as eleições deste ano. As atividades foram desenvolvidas na sede da Fundação dos Servidores Municipais, onde também almoçamos.
À tarde, houve a inauguração do laticínio da Coapar (Cooperativa Agrícola dos Assentados), com capacidade para industrializar 15 mil litros de leite diariamente. Uma indústria. Estiveram presentes Geraldo Alckmin e Fernando Haddad.
A direção dos festejos radicalizaram no slogan "nenhum brasileiro com fome", distribuindo a todos os presentes gratuitamente lanches compostos de frutas, queijos, iogurte produzidos pelos assentamentos. E era uma "multidão" de gente, todos sentados dignamente à mesa com sua família. Aconteceu o milagre dos pães. Depois houve churrasco e baile. A sexta-feira se completou. Vermelha.
A criação da cooperativa foi uma forma que o Movimento Sem Terra encontrou para enfrentar a vulnerabilidade das pessoas no campo: em vez de auxílio, congregar pessoas numa atividade produtiva no pedaço de terra de cada um.
Ao terminar o discurso, Alckmin, a grande novidade no pedaço, pôs o boné do MST à cabeça e citou a frase: "Não se esqueçam de plantar chuchu!" Comparação que o cronista José Simão fazia para caracterizar o ex-tucano na Folha de São Paulo. Só foram risadas e gozação. Não há como quebrar barreiras do que o humor.
Este sonho da cooperativa começou num projeto apresentado ao governo federal em 2014. Bolsonaro dificultou, mas o MST resistiu. E a inauguração aconteceu com lideranças da oposição. Sextou em Andradina. Uma sexta vermelha.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)