Há duas posições filosóficas que norteiam a conduta humana: uma diz que o ser humano nasce bom e a sociedade o torna mau; e a outra, ao contrário, ele nasce selvagem, e a sociedade o submete ao processo civilizatório, tirando-o da barbárie.
A primeira teoria, chamada de "mito do bom selvagem", defendida pelo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778); a segunda trabalha com o antagonismo "civilização ou barbárie", conforme Nobert Elias (1897-1990).
Barbárie e civilização representam a condição e estrutura de uma sociedade. A barbárie consiste no estado de caos e desordem, quando não há uma cultura ou um padrão de convívio entre os indivíduos, tornando-os seres cruéis, violentos e ignorantes.
Na atualidade, apesar de o processo civilizatório ter avançado nalguns setores, o ser humano continua na barbárie quando se trata do relacionamento humano. Direitos humanos não é o humano se defendendo dos outros animais, mas o ser humano se defendendo do próprio ser humano.
Escrevi tudo isso porque li a seguinte notícia no site 018 News: "Homem retornava do almoço quando foi cercado e alvejado dentro do veículo que dirigia", Araçatuba, Jardim TV, 07/02/2022. Houve assassinato.
E o texto da notícia continuava: "CHOCANTE. Imagens do auxiliar geral, preso ao cinto de segurança, em meio a muito sangue, ainda agonizando dentro da perua Kombi se espalharam rapidamente pela internet". A massa quer ver sangue.
Antigamente, havia jornais escritos e sensacionalistas que dedicavam suas páginas a este tipo de notícia. Quem se dispusesse a rasgar as páginas dele, ficava com sangue em suas mãos. Atualmente, os programas de TV e sites que se dedicam ao noticiário policial são bem-sucedidos. Só mudou a mídia.
Com a proliferação das redes sociais, hoje cada cidadão se tornou um repórter armado de um celular, compartilhando o que vê. E se a notícia for sanguinária, como a que estou analisando, possuirão muitos cliques, deixando o internauta postador com meio minuto de fama, orgulhoso.
Quem faz isso, assassino ou internauta sanguinário, não chora no filme quando Jesus é crucificado. Aliás, se frequenta alguma igreja, trata-se de um hipócrita, porque o cristianismo tenta tirar a pessoa da barbárie.
Repito mais uma vez: viva e deixe o outro também viver. Não vibre com o sofrimento alheio, nem que o outro seja um animal, nem pensar se for um ser humano.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor