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QUARESMA VINHO E SANGUE NAS VINÍCOLAS DA SERRA GAÚCHA

Na crônica da semana o professor, jornalista e blogueiro, Hélio Consolaro, escreve sobre o calvário enfrentado pelos trabalhadores das vinícolas de Bento Gonçalves (RS) e adjacências

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Fiquei sabendo que três vinícolas do Rio Grande do Sul: Garibaldi, Salton, que produz vinho canônico, e Aurora usaram a terceirização de mão de obra, uma forma disfarçada de lavar as mãos para transformar o sangue de trabalhadores baianos e argentinos em vinho.

 

Alguns dizem que são apenas três vinícolas, portanto, não são todas; outros afirmam que o número de empresas que terceirizam a exploração é muito maior.

 

É isso mesmo, caro leitor, quero chegar à Santa Ceia, repetida trilhões de vezes nos altares das igrejas católicas, quando se transfigura o sangue de Jesus em vinho.

 

No Sul do Brasil, onde predominou a imigração europeia, composta em sua maioria de cristãos, os cultos religiosos são apenas estéreis simbologias, não procuram aplicar a Palavra de Deus no cotidiano da vida.

 

A bênção do pão e do vinho era ação própria dos judeus, comida e bebida mais comuns na época. Reunidos para celebrar a Páscoa Judaica, a partir desse momento Jesus instituiu para seus discípulos um novo rito, tomando um pão e o vinho, dá graças e os dá aos seus discípulos. Assim Ele celebra antecipadamente a sua entrega, o seu sacrifício de Cruz.

 

Lá em Bento Gonçalves (RS) e adjacências, as vinícolas sacrificam novamente Jesus Cristo na pessoa de cada trabalhador com alojamentos imundos, salários enganosos. Para que o roteiro não fosse alterado, houve também a tortura do calvário. E um judas, o vereador de Caxias do Sul, Sandro Fantinel, eleito pelo partido Patriota.  Completando-se a via-sacra.

 

A transfiguração do sangue dos trabalhadores em vinho não foi simbólica, se deu mesmo por meio da exploração entre irmãos, do homem pelo homem, para serem vendidos nas adegas, bares, restaurantes e nas igrejas para a celebração da missa. Repetindo-se o processo da acumulação da riqueza de alguns.

Nós, católicos, quando participamos da missa e vimos o celebrante levantar o cálice e respondemos:

 

"Tomai, todos, e bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados. Fazei isso em memória de mim"

 

Tal cena na Serra Gaúcha não se trata de uma memória, mas de atos de exploração humana, onde Cristo continua sendo crucificado nos dias atuais.

 

Nesta quaresma, Campanha da Fraternidade de 2023, quando o tema é o combate à fome, o trabalho escravo praticado nas vinícolas da Serra Gaúcha é um exemplo de que a Palavra de Deus não anda iluminando o mundo do trabalho.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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