Alain Delon pede a filho que providencie sua eutanásia (Correio Braziliense, 21/03/2022)
Quando a velhice chega, percebe-se que o universo está nos expulsando do planeta. Ele percebe que persistimos, estamos teimando em viver e manda uma série de doenças, uma atrás da outra. E aí, por teimosia, gastamos mais em farmácia do que no supermercado.
Ouvi falar em eutanásia no Curso Normal (formação de professores), quando chegou uma professora moderninha de Português, Maria de Lourdes Munhoz, e pôs o assunto em discussão.
A partir desse fato, depois de ler em enciclopédias e livros da biblioteca municipal Rubens do Amaral, fiquei a favor da eutanásia.
Não sei se na hora H, na condição de Alain Delon, eu teria coragem. Ele mora na Suíça, cujo país tem lei favorável para quem optar pela eutanásia.
Enquanto no Brasil é proibido nem que a pessoa queira. Quem ajudar na eutanásia de alguém será considerado um criminoso. É só permitida por lei a Ortotanásia (morte correta) praticada por médicos, como pisar na borrachinha, desde que a família concorde.
Assisti ao filme MENINA DE OURO, quatro prêmios Oscar em 2005, porque no final da narrativa a protagonista pede a eutanásia. Imóvel na cama, só mexendo os olhos e boca, Maggie Fitzgerald pede a Frankie Dunn aquilo que seu pai fez com o cachorro quando ficou com saúde irrecuperável. E ele, movido pelo amor, não teve alternativa.
Alain Delon, 86 anos, o galã das moças dos cinco cinemas de Araçatuba, doente (sofreu AVC) quer antecipar a tarefa do universo, e pediu a Anthony, um de seus filhos, a prática do suicídio assistido. Ele o fará também por amor.
“A partir de uma certa idade, de um determinado momento, nós temos o direito de ‘dar o fora’ com calma, sem ter que passar por hospitais, injeções ou coisas desse tipo”, disse Alain Delon em entrevista à TV5 Monde e concluindo essa crônica. Vai encerrar a teimosia.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor