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OPINIÃO O FASCISMO ETERNO

O promotor de justiça, Adelmo Pinho, aborda o fascismo a partir da obra de Humberto Eco, na coluna REFLEXÕES desta semana

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O fascismo é uma espécie de ditadura. “O fascismo eterno”, obra de Humberto Eco, merece leitura e reflexão.

 

Em 1942, quando Eco tinha 10 (dez) anos de idade, o ditador italiano, Benito Mussolini, tinha origem na militância socialista e governava o país havia duas décadas.

 

Eco relata que, quando soube que a guerra tinha acabado (fim da segunda guerra mundial) e surgiu a paz, teve uma sensação curiosa, já que acreditava que a guerra era algo permanente, como ensinava o governo italiano aos cidadãos.

 

Eco explica que o fascismo italiano foi o primeiro a criar uma liturgia militar e um modo de vestir-se. Em 1930, surgiram movimentos fascistas na Inglaterra, Espanha, Portugal, Noruega, além de outros países da Europa, em destaque na Alemanha (nazismo) e América do Sul.

 

O fascismo italiano no começo era republicano e tinha lealdade à família real, mas esse laço foi rompido em 1943, quando o rei “despediu” Mussolini, mas este, meses depois, reapareceu com a ajuda da Alemanha, traçando um lema de uma república “social”.

 

Intelectuais da época que se rebelaram contra o regime fascista italiano foram presos ou assassinados. A liberdade de imprensa foi suspensa, o Poder Legislativo tornou-se inoperante e o Poder Executivo dominava o Poder Judiciário. Para o fascismo a liberdade é nociva.

 

O fascismo italiano, liderado por Mussolini, apoiava formalmente, através de leis, o nazismo. Eco elencou características do fascismo, as quais sintetizo nesta resenha.

 

Culto à tradição – para sustentar o regime autoritário, a direita italiana misturava o Graal com os Protocolos dos Sábios de Sião (textos antissemitas de ódio aos judeus), a alquimia (mística) com o Sacro Império Romano.

 

Recusa da modernidade – tanto fascistas quanto nazistas eram a favor da tecnologia, mas não de ideias de valorização do ser humano e de liberdades individuais, como do iluminismo (revolução francesa de 1789).

 

Irracionalismo – pregava o fascismo que pensar era uma forma de castração do homem e a ação, por si, dispensava a reflexão. A cultura e as universidades eram rotuladas de fomentar o abandono de valores tradicionais. Considerava-se traição a crítica ao sistema ou o desacordo a ele.

 

Nacionalismo – o fascismo pregava que o “privilégio” de todos era o fato de terem nascido no país, sendo os estrangeiros considerados inimigos (xenofobia).

 

Para o fascismo, não há luta pela vida, mas “vida para a luta”, sendo o pacifismo rotulado de conluio com o inimigo; a guerra é um estado permanente (como acreditava Eco, enquanto criança).

 

Elitismo – Pregou o fascismo a necessidade permanente de um líder ou um “dominador”, com a ideologia de desprezo pelos fracos.

 

Heroísmo – no fascismo cada pessoa é convocada a ser um herói e educada para desejar a morte, anunciada como uma recompensa para se atingir a felicidade.

 

Machismo – o fascismo transfere sua vontade de poder para questões sexuais, como desprezar as mulheres, consideradas inferiores e fracas.

 

Novilíngua (livro 1984 – Orwell) – o fascismo e o nazismo utilizavam de textos pobres ou falsos em escolas e na mídia, para desaculturar ou enganar os cidadãos, com o fim de limitar um raciocínio complexo e crítico. Disse Eco, ao final da obra, em tom de alerta: “O Ur-Fascismo ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis ...”.

 

Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba (SP) e articulista

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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