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O ERT (Estaleiro Rio Tietê) de Araçatuba e as empresas Estre Ambiental e Pollydutos pagaram propinas a políticos do antigo PMDB, partido político MDB. O esquema veio a público de forma mais evidenciada nesta quinta-feira (31), após a Polícia Federal deflagrar a 59ª fase da Operação Lava Jato, denominada “Quinto Ano”.
O estaleiro local e as demais empresas integram o Grupo Estre, que teve um de seus donos, Wilson Quintella Filho, preso nesta quinta-feira. Policiais federais foram incumbidos pela superintendência da PF em Curitiba (PR) de cumprirem 15 mandados de busca e apreensão – um deles no ERT de Araçatuba – e mais três em São Paulo.
Em Araçatuba, agentes federais apreenderam documentos contábeis na sede do estaleiro, papéis que registram a entrada e saída de valores da empresa. Todos os demais mandados foram executados em São Paulo, onde o advogado Mauro de Morais, acusado de fazer a lavagem do dinheiro usado no “propinoduto”,, também foi preso. Antônio Kanji, que também deveria ter sido detido, não foi localizado e é considerado foragido pela Polícia Federal.
O pagamento de propinas com dinheiro do Estaleiro Rio Tietê, Estre Ambiental e Pollydutos era feito por Wilson Quintella Filho. A informação consta na delação premiada do ex-residente da Transpetro, Sérgio Machado, responsável por articular a instalação do empreendimento em Araçatuba para a construção de 20 comboios de empurradores e barcaças.
A contratação do ERT representou à Transpetro, conforme ação movida pelo Ministério Público Federal e tramita no Fórum Federal de Araçatuba, uma despesa da ordem de R$ 432 milhões conforme documento assinado entre as partes envolvidas. Nem todo o dinheiro chegou a ser repassado ao Estaleiro, assim como dos 20 comboios apenas quatro foram concluídos e entregues à estatal. Eles permanecem faz pelo menos dois anos ancorados em um trecho do porto fluvial de Araçatuba, sem nunca terem transportado uma gota sequer de etanol.
REPASSES A POLÍTICOS
De acordo com procuradores da República e investigadores que compõem a Operação Lava Jato, o dinheiro desviado para o bolso de Sérgio Machado era repassado a políticos da cúpula do MDB, entre eles os senadores Renan Calheiros, Edison Lobão, Romero Jucá e José Sarney.
Além da delação de Sergio Machado, a Lava Jato também recebeu informações da Operação Descarte, que investigou o grupo Estre por crimes de lavagem de dinheiro em São Paulo e Minas Gerais. As provas obtidas foram compartilhadas e, segundo os procuradores, o modo de atuação do grupo nos dois casos era semelhante.
Sobre a fase desencadeada nesta quinta-feira, a Receita Federal, que compõe as investigações, apurou que a banca advocatícia do detido Mauro de Morais recebeu, entre 2011 e 2013, cerca de R$ 22,3 milhões de empresas do Grupo Estre – Estaleiro, Estre Ambiental e Pollydutos – sem que tenha prestado efetivamente qualquer serviço.
Além dos R$ 22 milhões já identificados na lavagem realizada pelo escritório de Mauro de Morais, depoimentos convergentes do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e os empresários Luiz Fernando Nave Maramaldo e Adir Assad apontam que a atuação criminosa de Wilson Quintella Filho e seu grupo possivelmente alcançou outras áreas, inclusive na Petrobras.
MAIS UMA VEZ
Esta foi a segunda vez que o estaleiro de Araçatuba esteve na mira da PF em decorrência da Lava Jata. Em dezembro de 2015, policiais federais estiveram na sede do ERT, onde apreenderam documentos e computadores. Assim como daquela, vez, a ordem atual partiu do comando da Polícia Federal em Curitiba.
Em paralelo às investigações da PF, o estaleiro de Araçatuba e um total de 32 empresas, órgãos públicos e pessoas são alvos de uma ação que tramita na Justiça Federal local, com base em denúncia feita pelo MPF sobre o contrato de R$ 432 milhões com a Transpetro para a construção dos comboios que deveriam ser usados no transporte de etanol pelo Tietê.
Imagens TV TEM/G1