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Faltando um ano para as eleições municipais, Araçatuba revive a mobilização de entidades e grupos “representativos” da sociedade civil com disposição jovial de quem acha mesmo que vai mudar todo na política local. Como acontece a cada período pré-eleitoral, tudo não passa de um mais do mesmo combinado, com intuito único de beneficiar alguém que não seja, exatamente, a sociedade por inteiro como pregam por aí.
Esse poderia ser um resumo curtíssimo da movimentação de entidades que, na semana passada, se juntaram, mais uma vez na sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), para discutir os gastos da política no município. Só que desta vez, tendo como pano de fundo a e as despesas com seus assessores.
Num passado não muito distante, grupo parecido que também usou a sede local da OAB como “casa”, já tentou algo do tipo. O conglomerado era composto, em geral, por pessoas e entidades do mesmo calibre das que, agora, se manifestam contra os altos salários na Câmara. Hoje, a própria Ordem dos Advogados, igrejas evangélicas, maçonaria, contabilistas e as tais entidades de classe.
O discurso pode até ser bonitinho. Sim, de fato a Câmara de Araçatuba poderia gastar menos com assessores. Só que a festa das mobilizações contra o que há de errado no Legislativo acontece com pelo menos três anos de atraso. Estes que aí estão levantando bandeiras e cobrando uma economia que poderia chegar a R$ 4,7 milhões na Câmara deveriam tê-lo feito antes do pleito de 2016.
Sem falar que a missão seria um tanto quanto mais nobre se não houvesse, no tal grupo que quer ver a Câmara gastando quase nada, vereadores em execício de mandato que vão, daqui a poucos meses, estar por aí pedindo nossos votos novamente. Na maior cara de pau. No desfrute pleno da demagogia barata.
OAB e demais entidades deveriam envergonhar-se ao levantar determinadas bandeiras políticas em Araçatuba. E aqui, não nos esqueçamos da famigerada Acia (Associação Comercial e Industrial de Araçatuba) que, durante o governo do então petista Cido Sério, hoje quase um evangélico no PRB, se ofereceu par ajudar a “administrar a cidade”. Só se esqueceram, na ocasião, de combinar com os “russos” que no grupo havia uma legião de militantes filiados a partidos de oposição. Caso descoberto e noticiado pelo jornal Folha da Região, que acabou enterrando, em curtíssimo tempo, toda articulação em defesa de Araçatuba e os coitados de seus moradores.
Por essas e outras, o que se vê, na mobilização lançada a público na semana passada, é um mais do mesmo pobre, quase infame. Até porque, envolvido com esse grupo, há vereador que desfrutou de gratificações e salários elevados a seus assessores por um ano e meio e que só resolveu bater nos altos gastos do Legislativo após ser alertado, sabe-se lá por quem, que as benesses de seu time destoavam de seus discursos. De novo, demagogia pífia.
Fazer o que o tal grupo capitaneado pela OAB começou a fazer na semana passada, quando lançou tal plataforma – fica aqui a aposto de que desse grupo sairão vários candidatos a vereador em 2020 – qualquer um pode fazer. O eleitor não precisa dessa mobilização “classuda” para defender seus interesses, pois ele tem o que há de mais precioso contra qualquer ato de exagero, roubalheira, bandidagem na política: o voto. Basta não votar em quem se lambuza com os altos salários na Câmara que ele fará seu papel sem ser usado como massa de manobra por entidade alguma.
Aliás, as tais entidades deveriam se preocupar não apenas com os altos salários pagos a assessores na Câmara de Araçatuba mas também com despesas parecidas no Executivo. Entre os maçons, advogados, contabilistas, comerciantes, industriais e afins que querem acabar com a farra no Legislativo, alguém chegou a fazer a mesma somatória sobre os ocupantes de elevados cargos comissionados na Prefeitura?
Muito provavelmente, não. Até porque, passa longe dos 100 os apaniguados no Executivo. E mexer nessa ferida não é nada interessante para maçons, advogados, contabilistas, comerciantes, industriais e afins. O que faz, mais uma vez, concluirmos que o tal movimento lançado na última semana beira a falácia, já que o termo demagogia fica pequeno para sua classificação.
O que os mobilizadores de ocasião – costumeiramente às vésperas de eleições municipais – precisam aprender é que a população quer Justiça por um todo. Se há altos salários pagos a assessores na Câmara, o mesmo ocorre na Prefeitura e o tal grupo de entidades não pode fechar os olhos para isso. Claro, se não quiser cair em descrédito antes mesmo de começar a trabalhar.
Do mais, se este outro novelo também não for desenrolado, ficará evidenciado que o grupinho de amigos preocupados com as finanças da Câmara só quer, na prática, brincar com a inteligência do povo e achar um viés que possa eleger ou reeleger seus representantes no pleito do próximo ano. Usando, assim e de novo, o pobre votante que costuma sair de casa debaixo de sol ou chuva no dia da eleição para cumprir seu papel de cidadão, achando mesmo que as coisas vão melhorar.