No último sábado (29), o jornalista e ex-apresentador da Rede Globo, Tiago Leifert, e sua esposa, a também jornalista Daiana Garbin, revelaram nas redes sociais que a filha Lua, de pouco mais de um ano de idade, está com um tipo raro de câncer nos olhos. A doença se chama retinoblastoma e surge em crianças ainda pequenas, um dos motivos que torna o diagnóstico precoce muito mais complexo.
A especialista em oftalmopediatria e estrabismo do Hospital do Olho de Araçatuba (SP), a médica Fátima Blumer, explica que o retinoblastoma é um tumor intraocular maligno primário, mais comum em crianças, originário em mutações de células. Segundo a SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica), o problema pode ocorrer em um olho, sendo unilateral, ou em ambos, bilateral, e geralmente ocorre em crianças com menos de cinco anos de idade.
A doença afeta aproximadamente seis mil crianças no mundo por ano, sendo que só no Brasil são registrados de 200 a 300 casos dentro do mesmo período. O retinoblastoma corresponde a 3% de todos os cânceres pediátricos, e é extremamente raro e grave. "Esse tipo de tumor se origina dentro do olho, na retina, que é uma camada muito importante do globo ocular, rica em fotorreceptores. A função dessas células é captar a luz e enviar a informação ao cérebro, gerando a visão", explica Blumer.
A oftalmologista ressalta que a doença necessita de um diagnóstico precoce, pois quanto mais cedo o tumor é encontrado, além da cura, aumentam as chances de salvar o globo ocular. Um dos principais sintomas é um "reflexo" no olho doente. "É parecido com o brilho que apresentam os olhos de um gato quando iluminados à noite. As crianças podem ainda ficar estrábicas (vesgas), ter dor e inchaço nos olhos ou perder a visão", detalha a especialista.
Alguns movimentos irregulares nos olhos das crianças também podem ser um indicativo. "Ao notar algum desses sinais nos olhos de crianças pequenas, é imprescindível que elas sejam levadas a um oftalmologista", orienta a médica.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O diagnóstico do câncer é confirmado após exame oftalmológico, que pode ser realizado em consultório, e feito com a pupila dilatada. Eventualmente, é confirmado com exame sob sedação no centro cirúrgico.
De acordo com a SBOP, a ultrassonografia ocular deve ser realizada e pode mostrar pontos brilhantes intralesionais consistentes com cálcio. A tomografia computadorizada também pode mostrar as calcificações quando a ultrassonografia não está disponível. A ressonância de crânio é necessária para realizar o estadiamento do tumor. "Por isso é fundamental fazer o teste do olhinho ao nascer, já na maternidade. Se estiver tudo bem, é importante levar a criança ao oftalmologista entre dois e três anos para a realização do primeiro exame oftalmológico. O caminho é a prevenção", alerta a profissional.
O tratamento para o retinoblastoma envolve quimioterapia e depende da intervenção precoce, sendo adaptado a cada caso. As taxas de cura são superiores a 95%, quando feito de forma adequada. "Infelizmente, é comum que a criança perca a visão, já que ele é altamente agressivo, mas há formas de tratamento que melhoraram muito nos últimos cinco anos, com resultados mais favoráveis", finaliza Blumer.
Segundo a SBOP, o manejo do retinoblastoma é complexo e envolve quimioterapia e terapia focal ou métodos cirúrgicos, com remoção do olho, quando indicado. A quimioterapia para o retinoblastoma pode envolver vários métodos diferentes, incluindo as vias intravenosa, intra-arterial, periocular e intraocular. A terapia focal pode consistir em destruição térmica, congelamento (crioterapia), laser e radiação de placa (braquiterapia). Pode ser utilizado um único tratamento ou uma combinação de tratamentos. Devido à sua complexidade, o retinoblastoma deve ser tratado apenas por um oncologista ocular treinado no tratamento de retinoblastoma.