No ano passado, ou melhor, nos últimos quatro anos, quem tivesse uma visão progressista sobre a vida era espezinhado por uma horda de gente sem nenhuma concepção de vida, a não ser pela ignorância. Chegavam a dizer que a Terra não era redonda, era plana, dentre outras coisas.
Muita gente até murchou, encolheu-se para não arrumar briga, porque a ignorância aumenta a convicção, tudo sabe, não é afeito à diversidade. Não sabe que a verdade mora em todos os lados. Está na hora de cantarmos a música de Belchior "Sujeito de sorte", desejando ao outro um ano novo diferente.
Com a derrota de Bolsonaro, não conseguindo se reeleger, esse pessoal do ódio, da discórdia, continua solto, mas cabisbaixos, se alimentando da própria raiva: egocêntricos.
"Tenho sangrado demais,/ tenho chorado pra cachorro / Ano passado eu morri,/ mas esse ano eu não morro" , tais versos são da música "Sujeito de Sorte", que na verdade são de autoria do repentista paraibano Zé Limeira, chamado de "Poeta do absurdo" , que viveu no século passado.
Zé Limeira era um negro analfabeto, mas sábio, filósofo, nascido no final do século 19, em Teixeira (Paraíba), que morreu em 1955. Seus versos atravessaram a oralidade incólume, com alguns registros escritos num rodapé de página de jornal, quase todo o século 20.
A vida volta a sorrir.
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Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
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