Todo araçatubense ou qualquer citadino, defensor das árvores e da economia ecológica, quando vê essa foto se delicia, porque é um exemplo de como gostaria de ver nossa relação com a natureza.
Em 1957, quando eu andava 10 km (ida e volta) numa estrada para chegar à escola, passava por pequenos restos de florestas (capão, bosque) que ainda abrigava animais selvagens. A onça era o mais temido. Estou falando de Araçatuba. Tais restos de floresta não existem mais naquela estrada que é o prolongamento da rua Aviação.
Na escola, encontrei o Dia da Árvore no calendário, tão comemorado pela professora. O que mais os escolares valorizavam nas árvores era a sombra e os frutos. Nem imaginavam que um dia isso podia acabar.
Nos sítios daquela época, a coisa mais corriqueira era pegar um machado e cortar uma árvore. Apesar da evidência da destruição, não se acreditava em que poderia chegar a ter um mundo devastado como está hoje.
Na foto que ilustra esta crônica, a árvore foi incluída na urbanização. Em setembro de 2022, vi outro exemplo. Estive em Itamambuca (Ubatuba), um bairro cujas mansões foram construídas no meio da floresta, sem ruas asfaltadas, onde as portas das casas eram raramente trancadas, com pássaros de todos os tipos no quintal arborizado, soltos, livres. Havia um esquema de segurança comunitário. Era a recuperação do éden por um preço astronômico.
Em Araçatuba, além de pessoas terem o espírito de lenhador, preferem derrubar uma árvore a varrer folhas caídas por preguiça; temos os profissionais da arquitetura e da engenharia com o mesmo espírito de lenhador ao projetarem ou construírem prédios. Não têm o trabalho de salvar as árvores, de incluírem-nas no seu projeto.
Para não dizer que só escrevi sobre a destruição, há exemplo de avenida bem arborizada em Araçatuba: avenida da Saudade, entre o estádio municipal Ademar de Barros e o cemitério da saudade. Eu me sinto feliz quando passo por ela naquele quarteirão. Aquela belezura só aconteceu porque há duas propriedades públicas que são lindeiras à avenida.
Há um trabalho conjunto da Secretaria Municipal de Cultura com a do Planejamento Urbano. Toda vez que um proprietário pede a demolição de um prédio antigo, a Cultura precisa opinar. Podia ser assim também com a do Meio Ambiente. Toda demolição/construção exigir vistoria e parecer dos engenheiros ambientais, evitando a derrubada criminosa de árvores. Criando a cultura de incluí-las na planta dos novos quintais e pátios de empresas.
No quintal de nosso Museu Histórico Pedagógico Cândido Rondon, fechado, existe uma figueira muito antiga e frondosa. Suas raízes se alastram por baixo do antigo prédio, que era residência oficial do chefe da ferrovia NOB, ameaçando derrubá-lo. Preservar a árvore encarece a restauração do museu, pois o problemase torna duplo: da memória cultural e da natural. E assim o problema se arrasta com o desfile de prefeitos. Gastar mais de milhão no restauro causa escândalo dentre a população.
Pensando juntos, encontramos soluções criativas a favor da preservação do planeta. Só a tecnologia, desacompanhada da ética e da ecologia, só o destruímos.
Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor e ex-secretário municipal de cultura de Araçatuba (SP)
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