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NO CALOR DO VERÃO CADÊ AS ÁRVORES?

Com saudade das árvores que um dia existiram no caminho, Hélio Consolaro conta na crônica da semana que recorreu ao Street View Google Maps para relembrar das “frondosas”

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Meus olhos que só veem paisagem (olham, mas não veem os detalhes) estavam com saudade de árvores monstruosas que de repente passaram-lhe motosserras em seus troncos. Tive que apelar para o uso do Street View Google Maps para encontrar as fotos delas.

 

Cheguei a ver seus restos mortais amontoados no local, mas não parei para registrar fotos do ato. Afinal, aos 74 anos, não quero ter a imagem de um velhinho encrenqueiro. Pode ser que haja boas razões para se cometer o crime. Na verdade, eu me acovardei.

 

Se o Clube da Árvore não se manifestou, porque serei eu a denunciar o corte da árvore. Mas nada me impede de escrever um texto choroso a respeito: cadê as árvores?

 

No cruzamento da rua Porangaba com a avenida Mário Covas, sede da CAMDA, em Araçatuba, Cooperativa Agrícola Mista de Adamantina, assassinaram algumas árvores, enormes, em nome de estar ampliando os serviços para melhor atender os cooperados.

 

Nem sei de que espécie eram as coitadas. Aquelas árvores eram o meu ponto de referência para eu contornar e pegar a rua Porangaba com meu pangaré. Pela falta dela, já passei reto várias vezes. Meus olhos estão com saudade delas. Recorri à internet, pois a cidade está toda fotografada nela.

 

Outra árvore, bem próxima da CAMDA, foi assassinada pela Prefeitura de Araçatuba, defronte ao antigo Posto de Sementes. Ponto de parada dos peregrinos à procura de sombra nesta cidade em que há um Sol para cada habitante. Aquele prédio urgia ter um destino pelo poder público, mas precisava derrubar a frondosa árvore?

 

Com certeza, tanto a CAMDA como a Prefeitura fizeram tudo dentro da lei, nem fui atrás procurar a legalidade do crime, mas a lembrança das árvores tombadas, quando descobri que os povos primitivos faziam ritos para derrubar uma árvore frondosa para se fazer uma canoa, como se estivessem pedindo autorização aos deuses, me fizeram ter dó de meus descendentes.

 

Recebi um vídeo da Universidade Federal de Catalão (GO), que plantaram duas mudas de baobá no câmpus durante as comemorações do Novembro Negro. Para tanto, convidaram as comunidades afros para fazer o rito do plantio. Árvore é mesmo um ser sagrado.

 

"Os dias sempre serão mais quentes. E quando o caraíba [branco] procurar uma sombra como abrigo, descobrirá que a Terra não tem mais árvores."  Livro: Apenas um curumim, Werner Zotz.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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