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REFLEXÃO CIDADE TURÍSTICA: A BONITA E A FEIA

Na crônica da semana o professor, jornalista e blogueiro, Hélio Consolaro, aborda o contraste social, o carnaval e as em cidades turísticas, em especial o litoral Norte, devastado pelas chuvas

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Em tempos de carnaval, ouço sambas, mas para escrever, quando converso com minha voz de dentro, preciso de silêncio, mesmo que o tema seja barulhento e alegre: carnaval. Então desliguei o som. Meus joelhos proibiram qualquer estripulia, nem as marchinhas.

 

Há dois anos que os carnavalescos não invadem ruas e clubes devido à pandemia (covid-19). Há gente que nem percebeu a ausência de carnaval nesses anos, pois abomina a festa. Que vá, então, aos retiros intelectuais ou espirituais, use o feriado de outro jeito ou deixe as horas passarem. Como já cantou Caetano Veloso: é proibido proibir. "E eu digo não ao não."  Chega de intolerância.

 

Há cidadãos de bens que são tão pobres de espírito que não entendem como uma família sem recursos pode festejar a vida. Para alguns mauricinhos e patricinhas a saída para o pobre se livrar da pobreza é o suicídio.

 

O carnaval é uma festa. Como todos são pobres e sabem que a perspectiva de mudança de vida é nula, com acessibilidade social travada pelo egoísmo, não esperam a melhora para festejar. Se fosse assim, ninguém comemoraria aniversário de ninguém.

 

Dois anos sem carnaval. Enquanto tudo estava preparado para a volta, alguém não cumpre o combinado e acontece uma desgraça. Exemplo: precipitação pluviométrica exagerada no litoral paulista, São Sebastião e seus 12 povoados. Não vai me dizer que Deus quis!

 

Isso atrapalhou a vida de todos, porque os veranistas foram impedidos de curtir os feriados, mas os mais prejudicados sãos os prestadores de serviços e empregados, que não moram na área turística da cidade (cenário de fotos), só lhes sobram moradias (aluguel ou ocupação) nas partes mais vulneráveis do balneário, onde a chuva chega com toda força. Estes verdadeiramente se danaram com as enchentes. Até morreram.

 

Em 2017, janeiro, estive usufruindo das praias de Mongaguá, hospedando-me numa casinha cedida por um parente amigo da onça. Quando cheguei com a família lá, percebi que íamos ficar na periferia. Assim descobri que as cidades turísticas têm duas partes: a bonita, onde se hospedam os turistas, bem-cuidada; a feia, onde moram garçons, camareiros, faxineiras, cozinheiras, porteiros de hotéis, ambulantes etc., mal-cuidada.

 

Prefeito de cidade turística enfeita e cuida da cidade, aquela linda e maravilhosa, que está no outdoor; a periferia, onde moram os serviçais, que é arrumada quando der certo.

 

Governo existe para cuidar dos pobres, porque os ricos têm condições de cuidarem de si. E todos nós sabemos que pobre não é um miserável por vontade de Deus, a sociedade é que os deixam assim.

 

Nos dias de enchente, os pobres que não tinham nada perdem tudo, às vezes até a vida. Não se trata de um jogo de palavras, é a realidade que está barulhenta, por isso produzi uma crônica cheia de ruídos.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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