Há um sábio ditado popular: quando um não quer, dois não brigam. É uma verdade. Nem sempre tais aforismos falam a verdade. Exemplo: "a voz do povo é a voz de Deus" só vale para quem ganhou as eleições.
Continuemos com o aforismo da briga. Dar razão para o russo ou para o ucraniano não é uma atitude de quem quer a paz. Está bem claro em qualquer guerra, os envolvidos têm interesses. Aí vem os fabricantes de armas provocando a guerra para vender o seu produto: "Quem for homem, cuspa aqui", como se fossem gangue de moleques de escola de antigamente.
Quem quiser construir a paz num conflito mundial não fornece armas para nenhum lado (exemplo negativo: EUA), procura mesmo pôr os dois numa sala para conversar. A Rússia não tinha nada de invadir a Ucrânia, mas precisava certamente criar um conflito para usar o arsenal ocioso.
- Vamos fazer uma guerra para descarregar o estoque?
Para lutar pela paz, para que não se crie uma nova guerra, a exemplo da década de 40, foi criada em 1948 a Organização das Nações Unidas, mas infelizmente a ONU está comandada por países armamentistas, então virou um enfeite. Mas ainda tem lá a sua função.
É o que defende o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. Ele diz que não quer se meter no conflito, assumindo um lado, pois quer mesmo é construir a paz no mundo.
Está certo, mas precisa do respaldo da ONU. Por ser dirigente de um país da beirada do mundo (embora seja redondo, tem beiradas), alguns, até mesmo brasileiros, riem do presidente brasileiro, pacifista. Como não temos interesse econômicos e nem bélicos, temos neutralidade suficiente para conduzir um processo de paz. Não riam, isso pode dar certo. A semente foi lançada.
Tivemos um presidente despreparado para o cargo durante quatro anos, só soube ser deputado anão na Câmara Federal para defender a sua própria família e seus comparsas. Não tinha o saber livresco, nem a sabedoria da vida. Como diziam seus opositores mais radicais: "era um traste!"
Agora temos um presidente respeitado em todo o mundo. Pode-se não concordar com ele em tudo, mas tem moral em qualquer lugar que chega, dos mais chiques aos mais pobres. Não é um pária, é um homem de respeito.
Não se faz guerra para manter a paz. Esse lema é das Forças Armadas, funcionando como argumento para justificar a sua existência. E também "paz" não é ausência de guerra. O Brasil, por exemplo, não está em guerra com nenhum país, nem por isso estamos em paz com tanta violência entre nós mesmos. A paz começa em nossas relações interpessoais.
Estou desenhando o óbvio, mas ele às vezes precisa ser bem explicado, quem sabe algum leitor ainda não entendeu. Enquanto eu estiver com meu interior em erupção, não haverá paz no meu exterior.
Dê uma olhada à sua volta, como você anda construindo o seu entorno. A pregação do ódio apenas constrói a guerra. A solidariedade, o amor, a amizade, o sorriso, a boa vizinhança, sem armas; tudo isso se opõe à guerra na Ucrânia.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
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