A morte da adolescente Beatriz, 15 anos, neta de Anizio Canola, mais de 80 anos, membro da Academia Araçatubense de Letras, me deixou pensativo. Ainda mais, depois de ler a manifestação do confrade no Facebook. Ele não denuncia nada, apenas lamenta o mau momento, mas merece um aprofundamento.
Anizio Canola ocupa a cadeira 5 da Academia Araçatubense de Letras desde 2014, cujo patrono é Osmair Zanardi. Participou de várias coletâneas, inclusive de nível nacional, escreveu "Contos, poesias e crônicas" e "A princesinha da Alta Sorocabana (coleção de dois volumes). Muito amado por Beatriz.
Grosso modo, ela morreu porque torceu o pé na escola, mas constou no óbito a causa mortis: embolia pulmonar. Socorrida a tempo, morreu no hospital. Menina inteligente, única filha, única neta. Deixou de ser avô.
Eu desejava fazer um texto bálsamo, dizer que o bem e o mal fazem parte do plano de Deus e que a morte de Beatriz pode estar nos desígnios divinos, mas eu não consigo, a minha solitude me impede. Judas Iscariotes fora escalado pelo Pai para trair Jesus por 30 dinheiros. O roteiro do Senhor tinha de ser cumprido.
A nossa vida dá certo por um tempão, basta acontecer alguma tragédia para maldizermos o mundo, às vezes, o próprio Deus.
A onça faminta que encontra uma pessoa perdida na floresta dá graças a Deus pela comida achada; mas a pessoa desesperada pede a proteção para o mesmo Deus. A quem atender?
Muita gente se estraçalha em acidentes e se salva. Beatriz foi por uma causa quase inexplicável. Pobre Anizio e Cida, avós, imagine como sofrem os pais.
LEIA TRECHO DO QUE ANIZIO CANOLA ESCREVEU:
Nunca fui alarmista. Mas confesso, estou cada dia mais preocupado, com tudo que anda acontecendo aqui, ali, acolá, no mundo em geral. Fatalidades são constantes. Não era assim em outros tempos. Nem bem a gente respira por uma tragédia que passou, ocorre uma fatalidade com alguém conhecido, uma enchente impressionante, um desmoronamento mortal, um... E por aí vai.
Nos tempos idos, acontecia uma mortandade em Andradina, Araçatuba não ficava sabendo, a notícia vinha nos passos de um jabuti. Hoje, todas as desgraças do mundo são noticiadas instantaneamente, dá ibope. A humanidade só gosta de tragédia, notícia boa vem devagar. E há gente que não aguenta esse bombardeio na cabeça o dia todo. E para completar o cenário tenebroso, há os produtores de fake news.
Num sofrimento desse que passa a família Canova, as palavras precisam ser bem pensadas antes de serem ditas. Cada um deles não está sozinho, lá dentro, há uma voz que precisa ser ouvida: a voz de dentro, que podemos chamá-la de Deus. Ela é o norte, Ele é o bálsamo.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)