A semelhança entre o Cristo Morto, de Holbein, e o índio Yanomami não é mera coincidência. Ambos estão despidos de suas humanidades bem como de suas divindades. Ambos trazem no semblante a dor do abandono. Ambos, cadavéricos e rígidos, estão carregados de sofrimento e putrefação. Ambos insepultos.
Diante do Cristo Morto de Holbein, Dostoiéviski, estático por 15 minutos, emudeceu teve sintomas de epilepsia sem ser epilético. Como ficar indiferente? Como ignorá-lo?
Diante do índio moribundo estamos nós, e não há como fugirmos dele, fingirmos que não o vimos. Vimos! E em carne e osso. Pouca carne, muito osso. Carregado de muitas e indizíveis dores.
Ah, sim, ouso parafrasear o profeta Isaías:
"(...) não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para o que o desejássemos.
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum".
Aí você me dirá: é sobre Cristo que Isaías está falando.
Daí eu lhe direi: sim, eu também. Porque quem não viu Jesus nesse Yanomami não o verá noutro lugar. (Texto de Dilson Cunha)
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)