Numa reunião familiar, avós, filhos, nora, genro, netos, planejamos um passeio a um lugar com nome difícil de ser memorizado: Itamambuca. Três núcleos familiares, três cotas. E assim, pagamos antecipadamente a locação de uma casa nesse lugar. Faltavam a grana do translado e da alimentação.
Cada família se virou como pôde. Os netos araçatubenses, assessorados pela mãe, encheram um cofrinho de moeda, venderam latas de cerveja e refrigerantes, amealharam mais de três mil reais. Uma forma de ensinar poupar para um determinado fim.
Como não vivi isso de passar férias em praia, muito menos com toda a família, curto o turismo, mas sem nenhum pieguismo de saudade da infância. Acabo sendo um pai e um avô sem graça em tais eventos. Daqui a pouco, não me convidam mais, que é o destino dos velhos chatos.
Criaram até um grupo de zap com os participantes, chamava-se "Viagem de Itamambuca". Pá de cá, pá de lá. Eu com trocentos grupos, tinha mais um para participar. As crianças iam marcando os dias na folhinha até chegar primeiro de setembro, como faz o presidiário esperando o seu dia de liberdade.
A ENTRADA DO CONDOMÍNIO
Não me informei sobre o Itamambuca, cujo nome significa pedra furada no tupi-guarani. Era um lugar para onde viajaríamos. Pronto, eu era um conduzido. Só sabia que era bonito, nem desconfiava que era local de surfistas. Como já tínhamos feito uma excursão há alguns para a Praia Grande, verdadeiros farofeiros, fiquei agarrado à experiência anterior.
Itamambuca é uma vila afastada de Ubatuba, 15 km, e a casa locada num condomínio altamente ecológico com o mesmo nome. Um sonho para o qual não me preparara para saboreá-lo. Ruas sem asfalto (inadequado para a proposta do núcleo residencial) e casas construídas num capão (bosque) da Mata Atlântica. Praia rural, sem um carrinho para se comprar um sorvete. Tudo muito sítio, rural, mas as casas... Quase mansões. Confesso que toparia morar naquele lugar.
Portaria do condomínio: nenhuma parafernália de segurança, ninguém é dono do mar. A segurança é comunitária. Não houve roubo por lá ainda. A gente dorme no meio do mato, sem medo. Explicando melhor: a casa fica no interior do bosque, que não é fechada a chaves.
O encontro do rio Itamambuca com o mar, de um lado água doce, do outro, salgada
O local é administrado pela Sociedade Amigos de Itamambuca, uma espécie de subprefeitura, cuida do lixo, da conservação das vias, possui patrolas. Lá folha não é lixo. O meu jardim de fundo de quintal, que eu achava ser tão primitivo, rural, passei a vê-lo como chique. O condomínio Itamambuca é sítio mesmo, sítio por opção, planejado para ser assim.
Estou contando tudo isso aos leitores, como forma de mostrar meu espanto. Conservar a floresta da Amazônia sem destruí-la totalmente é possível. Não é papo da esquerdalha verde. Itamambuca é um exemplo: quanto mais vegetação e árvores, maior a valorização imobiliária.
Sem querer, sem planejar, fiz um turismo interessante. Não enchi os olhos apenas, nem só convivi com minha família, alimentei também as minhas convicções.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
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