Ladrão se arrepende de furto e devolve mercadorias à delegacia!
Homem se arrependeu de ter levado carrinho cheio de supermercado local. Com a consciência pesada, procurou o plantão policial e entregou os objetos levados. Matéria veiculada em um jornal de Araçatuba em 06/11/2023.
Chamar o sujeito de "ladrão bonzinho", que furta um carrinho meio esquecido no supermercado porque o seu dono foi "mijar" no banheiro, é ingenuidade.
Aí entra a filosofia: as pessoas nascem boas e são corrompidas pela sociedade; ou as pessoas nascem más e são educadas pela sociedade?
Não importa a resposta. O "ladrão bonzinho" certamente, se lembrou do sermão da mãe "não pegue nada de ninguém" ou o sermão do padre: "não furtarás!" Alguém deve ter lhe dado uma orientação. Mas a tentação foi maior, cometeu o crime, então a consciência doeu, veio a culpa. (Dizem que só sabemos que temos consciência e vesícula quando doem.) Devolveu o conteúdo do furto, tomara que seja um BO engavetado.
Como a burocracia policial e judicial vão tratar o caso, dá uma tese de pós-graduação, pois vai revelar que nosso sistema está alicerçado na base consciência-culpa da civilização judaico-cristã: arrumar culpados em vez de resolver problemas.
Deixar um carrinho lotado de mercadoria, após passar no caixa, ter pago a mercadoria, e ir ao mictório achando que não vai correr nenhum risco é ingenuidade. É acreditar demais nas pessoas.
Já fui ao banheiro do supermercado, mas deixei o carrinho entre as gôndolas, apesar disso, numa das voltas, não encontrei mais o carrinho. Demorei um pouco mais no mictório, o funcionário escalado para desobstruir o corredor achou que fosse carrinho abandonado e recolocou as mercadorias nas gôndolas. Fiquei uma fera, pois perdi todo o serviço. De raiva, fui comprar noutro supermercado.
Voltando à ingenuidade. Como nosso meio anda carente de ingênuos, o encontro deles causa escândalo, manchete de noticiário. Certamente o ladrão honesto foi chamado pela população de bobo, estúpido.
Se houvesse só ingênuos no mundo, não haveria as guerras. Jesus Cristo foi um desses, pois acreditou que todos haviam entendido sua mensagem, até morreu crucificado por isso. Os revolucionários são outro tipo de ingênuo porque ainda acreditam na humanidade, acham que o mundo tem conserto.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)