Tenho comigo que líder bom é aquele que não tem ideias. Reúne a turma, ouve a todos e forma democraticamente um ideário. Aberto à participação.
Um líder cheio de ideais está a um passo para se transformar num ditador, querendo impor suas ideias ao grupo (ou nação). Para constatar isso, veja a história da humanidade: Stalin, Hitler, Franco, Mussolini e assim por diante.
Lira e Alexandre Moraes estavam nas mesmas funções de hoje quando o presidente era Bolsonaro. Por que não votaram a reforma tributária? Porque não havia um articulador despojado de ideias como Lula (assessorado por Haddad).
Com a inelegibilidade de Bolsonaro, o Centrão se desvencilhou do traste e vai apoiar Lula, basta haver participação no governo.
Quando Temer indicou o nome de Alexandre de Moraes para a vaga do Supremo Tribunal Federal, não gostei. Errei. O cara tem princípios. É uma das pilastras na defesa da democracia brasileira.
Quando os analistas da Globo (via Globo News) dizia que Lula estava lascado diante de Lira, o pernambucano dava volta por cima com sua habilidade. Gérson Camarote, por exemplo, é um jornalista a serviço. Até disseram que o presidente Lula tem muita sorte, tudo dá certo com ele. Não souberam (ou não quiseram) reconhecer a sua competência.
O 8 de janeiro, ataque a Brasília, foi arquitetado pelo universo, pois nunca vi força política tão despreparada como o bolsonarismo, ainda bem. O terrorismo assustou a todos e uniu os três poderes e forças díspares.
Já li muito, e é uma verdade, a afirmação de que não será um partido ou um líder que vai tornar o Brasil um lugar de gente feliz. E Lula prova isso: está mudando, mas chamando a todos para a discussão, muda aqui, altera ali. A mudança nascerá do consenso. A oposição contribui com a crítica.
Sou petista, mas não citei ainda o nome do PT nesta crônica, mas me orgulhei do partido, quando entendeu o Lira, presidente da Câmara Federal e deu 100% dos votos para a reforma tributária, apoiando Lula, sem restrição. Entendeu a sua responsabilidade histórica.
O alagoano é o cara. Não vale o que o gato enterra, mas entende bem o momento político, por isso perdoa-se até a sua desonestidade. Gilmar Mendes anda segurando as acusações contra ele no STF. Não é um Eduardo Cunha, nem Severino Cavalcanti.
Ando com o sentimento dos versos da música de Belchior: "Ano passado eu morri, mas neste ano não morro".
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
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