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OPINIÃO NÃO FORAM ABORTADAS PELA MÃE, MAS SÃO RENEGADAS PELA SOCIEDADE

“O melhor presente é praticar a justiça social”, reflete o professor e jornalista, Hélio Consolaro, sobre as celebrações do ‘Dia da Criança’

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Não curto o mito da infância feliz, como a melhor parte de nossa vida, porque não tenho boas coisas para recordar. Se eu não tivesse dado uma boa infância para meus filhos e netos, talvez teria saudades da minha, não teria elementos de comparação.

 

Não estou me queixando de ninguém, nem procurando um culpado. Se há um responsável é o tal do pecado social, aquele que cometemos em conjunto. A situação não era boa, meus pais fizeram o melhor e os filhos têm um lugar social de fala. Resumindo: exercemos a cidadania.

 

No último dia 12 de outubro foi o ‘Dia da Criança’ em meio a duas guerras. A cada ano, as crianças não são as mesmas, morreram de fome, foram assassinadas nas guerras ou pelas balas perdidas, mas há muitas que avançaram na sua trajetória, foram vencendo a vida, ou melhor, venceram na vida.

 

Muitos adultos, geralmente os velhos, criticam, o mundo está perdido, mas se esquecem de fazer a autocrítica: quem construiu esse mundo cruel foram eles.

 

Netos criança recebem presentes de seus avós, todos as crianças receberão presentes, nem que seja um doce, um brinquedo de plástico. Melhor do que não receber nada. Mas muitas crianças não são reconhecidas como filhos por pais, às vezes, abandonadas pelas mães. O último reduto de amor é a avó.

 

Não quiz estragar o aspecto festivo do Dia da Criança de ninguém, mas precisamos nos lembrar delas quando fechamos a folha de pagamento, ao sonegar impostos, ao traficar.

 

Suas mães honraram a vida, não cuspiram fora o feto, mas a sociedade diz que bandido bom é bandido morto, quem é criminoso não merece viver, exigem pena de morte, fatalidade de uma bala perdida. A criança nasce, não se aborta, mas depois não a deixa viver. 

 

Não acolhe seu filho sem pai, fruto de um encontro clandestino, porque o machismo diz que segurem suas cabritas porque meus bodes estão soltos. Mulher pobre não tem o direito de escolher seu homem, precisa se submeter ao estupro.

 

Estenda a mão e dê um mimo para uma criança de rua, mas o melhor presente é praticar a justiça social, propiciar trabalho para que cada um ganhe dignamente o seu sustento.

 

Matar a fome é eliminar o egoísmo, infância digna é o fim da mentalidade machista. Não pegue uma mulher na marra. Viva bem, caro leitor, mas deixe o outro a viver também. Viva a paz, basta de guerra.

 

Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor

 

(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)


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