Nos jogos importantes, os jogadores entram acompanhados de crianças. Outro dia, o Palmeiras inventou moda: cada jogador carregava um cachorro no colo. Com certeza, nenhum vira-lata.
Logo, logo vão transformar esse momento em marketing comercial: os jogadores entrarão carregando um produto, por exemplo.
Segundo um site português, esta onda foi criada no Brasil, chegou à Europa na década de 90. Teve início em 5 de setembro de 1976, no jogo entre Atlético e América mineiro. O objetivo era atrair mais famílias aos estádios em dias de jogos.
A Fifa incorporou essa ideia em 2001, em parceria com a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), para proporcionar um encontro da criança com seu ídolo, incluindo também as crianças pobres. Na verdade, atualmente as carentes estão sendo esquecidas, preferem as bonitinhas.
Como tais crianças são selecionadas? Nos últimos jogos com tal marketing, não vi crianças negras e nem orientais. Havia jogadores negros ao lado de crianças brancas.
Diz o site português que cada clube tem um método, muitos escolhem as crianças na escola de base. Se for assim, o selecionador acha que só as brancas são bonitinhas.
Na Inglaterra, essa experiência já é comercializada pelos clubes. A maioria do Premier League cobra valores altos para que uma criança participe dessa aventura. O valor pago dá o direito a pacote com diversos benefícios, como dois a quatro bilhetes para o jogo, equipamento completo para a criança, fotografia com os jogadores, bolas assinadas, entre outros brindes, dependendo do clube.
Se se faz uma campanha antirracista entre as torcidas de cada time, por que os organizadores de copas e campeonatos não seguem o mesmo critério ao selecionar as crianças?
Parece uma bobagem. Bobagem para os brancos. Como sentirá uma criança negra, já zoada na vida pela cor, ao não ver uma companheira de raça desfilar ao lado de jogadores de futebol pela televisão. Assim se faz também a exclusão.
Uma pessoa excluída se torna magoada, situação propícia ao consumo de drogas e à prática da violência. A civilidade exige inclusão para que construamos a cultura da paz entre nós.
Sugiro ao caro leitor a pesquisar a história do futebol, no Brasil e fora dele. O esporte mais popular sempre trouxe em seu bojo a questão racial.
Cuidemos mais de nossas atitudes. Às vezes, aquilo que nossos pais nos ensinaram, que achamos tão normal, está eivado de preconceitos. Precisamos nos reconstruir.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação).