Conheci Marc Souza, pseudônimo literário de Marcelo Otávio de Souza, 47 anos, quando fui secretário municipal de Cultura de Araçatuba, por meio do concurso de contos Cidade de Araçatuba. Ele ficou bem classificado no certame literário, morava em Birigui.
Depois disso, mantivemos ligações on-line, nos tornamos amigos. Seu cotidiano não se limita a fechar e abrir celas, aliás, foge dele fazendo literatura. Atualmente, presta serviço em Dracena, cidade onde nasceu.
Já publicou três livros: Fatos, relatos e boatos (2014); Casos, acasos e descasos – várias, variáveis de uma vida sem graça (2015); Balaio de gatos (2018).
Não faça confusão, caro leitor, entre escritor de romances policiais e policiais que escreve romances e outros gêneros literários. Rubem Fonseca, já falecido, era um policial que escrevia romances.
Há também pessoas que descobrem a literatura enquanto presidiárias. Voluntários trabalham no cárcere para alfabetizar e acabam descobrindo (ou construindo) escritores. É cultivar flores em terrenos áridos.
Além de escritor, Marc Souza faz parte da diretoria do sindicato de sua categoria. De repente, soube que em 2019 foi citado num trabalho acadêmico da USP da mestranda Marineila Aparecida Marques: "Literatura carcerária: educação social por meio da Educação, da escrita e da leitura na prisão".
O cara ficou cheio de si: "Nunca imaginei que um dia seria citado em um trabalho acadêmico. Descobri ontem que fui citado em um texto de 2019". Há muito escritor que morre sem realizar esse desejo.
Eis o trecho em que foi citado: "Há um número expressivo de trabalhadores do sistema prisional, em todos os estados brasileiros, que publicaram livros. Escolhemos aleatoriamente alguns exemplos para ilustrar este artigo, mas fica registrado o nosso reconhecimento a esses agentes penitenciários que fazem muito mais do que abrir e fechar celas. Marcelo Otávio de Souza, dracenense que trabalha como agente penitenciário há cerca de 15 anos, publicou três livros com o pseudônimo Marc Souza. Fatos, relatos, boatos (Redondeza Contos, 2014), Casos, acasos e descasos – várias, variáveis de uma vida sem graça (Aped, 2015), Balaio de gatos (Clube de Autores, 2018). Ainda que seus livros não tratem diretamente do cotidiano da prisão, têm em vista o potencial da leitura para a transformação da realidade em que vive e trabalha. Ele direciona seus escritos também aos agentes penitenciários por meio de uma coluna mensal no site do sindicato ao qual é filiado. Esse é um caso em que não sabemos se é um escritor que se tornou agente penitenciário ou se é um agente penitenciário que se tornou escritor".
Para um indivíduo que escreve ser mesmo um escritor, não pode ter vergonha de se classificar como tal. Assim é Marc Souza, se apresenta como escritor. Parabéns!
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
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