Fui assistir à apresentação do trabalho de conclusão (TCC) da 16ª. turma do Curso Técnico em Teatro do Senac-Araçatuba no teatro municipal Castro Alves. Carga horária de um ano e meio de duração.
Eu sabia de cor e salteado o enredo da peça do controverso Nélson Rodrigues, mas eu queria ver como iam se sair no palco os atores e artistas locais, como seria a direção de Tato Brasil.
“O beijo no asfalto” se transformou em 2018 em filme com Lázaro Ramos, Débora Falabella, Augusto Madeira. Direção de Murilo Benício. Produção de 2018. Hospedado no YouTube.
Se você assistiu à turminha do Senac no Castro Alves, já é o suficiente, só se for por curiosidade, comparar desempenho dos atores, então vale a pena ver “O beijo no asfalto” em filme. Sem cenário e figurino de época, quase todos na mesma faixa etária, a moçada de Araçatuba foi ótima.
Todos estão aptos em se registrar na Delegacia Regional de Trabalho – DRT – de acordo com a lei 6.533 de 1978, ter sua DRT, o documento é uma espécie de registro profissional. Isso significa que a pessoa está capacitada e tem autorização legal para trabalhar como ator profissional.
Há uma pessoinha do mundo cultural de Araçatuba, desinformada, que desclassifica o Festara (Festival de Teatro de Araçatuba e Região) por não haver curso técnico de teatro em Araçatuba. Tomara que leia esta crônica.
Ter esse curso no Senac foi uma luta de Alexandre Melinsky, quando foi diretor de cultura em minha gestão na Secretaria Municipal de Cultura, e comprometimento do Senac com a cultura.
UM BEIJO NO ASFALTO
Um beijo. Uma praça. Uma notícia. Uma família. Um beijo no asfalto. Uma praça cheia de gente. Uma notícia falsa. Uma família arruinada... (Prospecto entregue na portaria do teatro).
A peça é uma denúncia de como é maléfica a imprensa sensacionalista, onde um beijo é colocado em execração pública. Só porque um homem beija outro homem na hora da morte.
Não interessava ao repórter o atropelamento de um cidadão por um ônibus, mas, sim, porque o personagem, atendendo a um pedido de outro na hora da morte, lhe recebeu um beijo. Com isso fez um escândalo na cidade do Rio de Janeiro.
O enredo também subliminarmente questiona a homofobia. Homem beijar homem é crime, mas matar outra pessoa nem tanto.
ELENCO
Célia Cabrali, Dante Rodrigues, Fernando Galvo, Fernando Alves, Janaína Corazza, Lisa Amaral, Joanita Santos, Júlio Zavanelli, Kimm, Leonardo Oliveira,Lucas Panini, Lucas Suguino, Mari Leon.
DIREÇÃO: Tato Brasil. PREPARAÇÃO VOCAL E CORPORAL: Thaís Fernandes
“O beijo no asfalto”, peça escrita em 1960, tão real no filme em 2018, tão atual em 2023. A arte discute a essência humana num determinado tempo, mas ela, com seu poder de mimese, é atemporal.
Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)