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VIVER E DEIXA O OUTRO VIVER. ABAIXO O FANATISMO RELIGIOSO

Consolaro escreve sobre episódio que colocou em Araçatuba em destaque na mídia nacional esta semana

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O Sebastião Jr, pré-candidato a prefeito de Araçatuba pelo PT (pois candidato bom tem que ser assim, porreta, não tolera injustiça, não faz média com a intolerância e o preconceito) me chamou a atenção para uma numa notícia: "Mãe perde guarda da filha após jovem participar de ritual do candomblé". Juro que li isso muito rapidamente numa notificação na tela do computador e não dei a devida atenção.

Como acontece todos os absurdos por esse mundo de meu Deus, nunca imaginava que isso estava acontecendo em Araçatuba, debaixo de meu nariz. Com a indicação do Sebastião, corri atrás da notícia.

Como é difícil ser negro, viver em paz, num país que foi construído por gente de cor. Não podem nem professar a religião de seus ancestrais. Ninguém denuncia alguém que leva uma criança pela mão a uma igreja evangélica, católica e outras. O fanatismo faz criar a intolerância, a inventar a mentira, a calúnia, a produzir fake news.

Todas as religiões têm algo estranho, elas trazem em seus ritos a ancestralidade. A católica tem como símbolo um homem sendo torturado numa cruz. Que imagem mais mórbida, mais chocante, com tanta violência. Como sou católico, acho o crucifixo a coisa mais normal do mundo.

Os evangélicos pentecostais entram em transe, gritam, durante os cultos. Como moro ao lado de uma igreja assim, escuto as mais variadas manifestações. Nunca chamei a polícia para internar todos num hospício. E isso faz 38 anos. Porque não atrapalham o meu sono, não me impedem de fazer as festas de vez em quando no fundo de meu quintal. Já me acostumei tanto com eles, que são meus vizinhos amigáveis. Isso se chama tolerância, vivo e deixo o outro viver também.

No mesmo quarteirão onde moro (ele é diverso e ecumênico, graças a Deus), há uma casa com um terreiro de candomblé. Na sexta feira, há os cultos, embora seja quase defronte à minha casa, o barulho é abafado e baixinho, nunca me incomodou. Quero que eles vivam, tenham a sua fé, são meus irmãos.

Já participei de várias campanhas eleitorais. Todos os candidatos visitam igrejas e também os terreiros. Ser candidato é uma aprendizagem, ser prefeito, vereador, secretário municipal também; a pessoa passa a conhecer todos os metros quadrados da cidade.

Não vou descadeirar a evangélica que fez a denúncia, inventou uma série de coisa, porque ela foi cegada pelo fanatismo. As nossas autoridades não podem navegar no mesmo atraso, estamos sob o vigor da Constituição Cidadã de 1988.

(Sebastião Júnior, obrigado, continue assim, não se cale diante do descalabrado, pensando que está ganhando voto.)

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* Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP

 


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