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CONTRARIANDO A LÓGICA VIVEU POUCO, MAS INTENSAMENTE

Sergio era um jornalista temido, xingado, caluniado, mas fazendo um zoom, era uma pessoa autêntica

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Há gente que contraria com sua vida o senso comum ou os versos dos poetas.  "De louco, todo mundo tem pouco" ou o verso da música Vaca Profana de Caetano Veloso: "De perto, ninguém é normal".
Esse cara que contrariou a lógica, porque de perto era uma pessoa de fino trato, mas de longe era maltratado porque levava sua profissão a sério, chamava-se Sérgio Guzzi. Conseguiu um "apertamento" num condomínio popular para abrigar a família. Não viveu juntando o vil metal.
Não ia fazer essa crônica com base no discurso ao pé da cova, porque naquela hora o morto vira um santo; mas também, o cara morreu de covid-19, nem teve direito a um velório.
Nenhuma morte é boa, principalmente para quem fica, mas a do Sérgio foi cruel, morreu aos 44 anos, covid-19, deixando os filhos João (a cara do pai) e Francisco quase adolescentes para Sílvia Helena cuidar.
Como a esposa disse: "Apesar de Sérgio ter se cuidado muito, de se preocupar, o coronavírus foi implacável com ele e com a gente, roubando todo esse convívio". E concluiu:  "Só peço a Deus que Ele me dê força e a guia... Tenho esses dois pequenos para encaminhar na vida".
Ao conversar com Sílvia Helena, também jornalista, sobre o Sérgio Guzzi, encontrei a dor da separação e a doçura de uma vida vivida a dois. E também no perfil do Whatsapp, a foto dos dois filhos.
Sérgio era um jornalista temido, xingado, caluniado, mas fazendo um zoom, era uma pessoa carinhosa e autêntica. Não ouvi da viúva (eta palavrinha feia) nenhuma queixa, só elogios ao Guzzi. Como disse Sílvia: "O Sérgio não nasceu para fazer outra coisa na vida".
A luta dela é preservar a memória do marido, porque "diante de uma informação importante e pertinente de ser divulgada ele não recuava, independente das consequências futuras que teria, abraçou o jornalismo com coragem". Essa sua postura lhe rendeu muito rancor e calúnia.
Iniciou carreira em Rio Preto, lá passou por jornais, depois pela Prefeitura. Em 2001, para a Folha da Região, onde ficou até 2005. Trabalhou no Bom Dia, de Bauru; retornou em 2007 para a Folha, onde ficou até 2014. Desde então, passou a atuar de forma independente em site próprio - Política e Mais. Depois Araçatuba e Região e, desde 2019, temos o site 018 News.
Na Folha da Região, fomos colegas de trabalho, depois fui ser secretário municipal de Cultura. Estivemos em lados diferentes, mas nunca nos desentendemos. Havia equilíbrio entre os dois librianos.
Viver é uma loucura, escrever sempre foi perigoso, ainda mais quando se busca a verdade dos fatos. Sérgio Guzzi viveu pouco, mas intensamente, não foi um morno. Disse o poeta que o Senhor busca os bons mais cedo para tê-los ao seu lado. É o consolo que encontrei para a sua morte precoce.

* Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP


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