As tardes de quinta-feira (04) e sexta-feira (05) foram de protestos em Araçatuba por conta das imposições e restrições da Fase Vermelha de enfrentamento ao novo coronavírus. Não, quem foi às ruas não foram comerciantes, donos de bares e afins. Mas sim mães. ‘Meia dúzia’ de ‘gatas pintadas’ empunhando cartazes pedindo que as escolas não sejam fechadas na cidade nos próximos 14 dias, como determinou a administração municipal.
Seria esta uma causa louvável? Para elas, sim. Para a maioria das pessoas que se manifestaram em redes sociais sobre o assunto, não. Até porque, as mães que na quinta-feira foram fazer “panelaço” em frente a casa do prefeito Dilador Borges (PSDB) e que nesta sexta-feira estiveram na Prefeitura não representam a classe mais pobre da população araçatubense.
São mães que, perto de tantas outras que vivem a penúria imposta pela Covid-19 no município, têm seus filhos matriculados em escolas particulares da cidade. Instituições de ensino que, pelo que elas mesmas descrevem em suas lamúrias, oferecem protocolos de segurança contra o novo vírus extremamente avançados.
Pressupõe-se que os estudantes dessas escolas são lambuzados de álcool gel dos pés à cabeça a cada movimento que fazem dentro destas escolas; que os professores e demais funcionários usam aquelas roupas de astronauta e que os alunos, ainda, são blindados por máscaras da mais alta qualidade e usam aquelas proteções faciais acrílicas, chamadas de face shield.
Não, não é nada disso que elas tentam mostrar. A realidade é bem outra e, para sermos sinceros, muito se aproxima do que é oferecido nas escolas públicas da cidade, onde estão os filhos dos pobres. Os filhos daqueles que muito pouco tem a oferecer a suas crianças num período tão duro para a humanidade. Mas que, nem por isso, estão batendo panela para que as escolas fiquem abertas durante semanas em que as autoridades de saúde afirmam que podem ser as mais terríveis desde o início da pandemia.
No mundo em que as “mães da discórdia” vivem, a realidade é muito, mas muito diferente da grande maioria dos alunos de Araçatuba. É um mundo onde as geladeiras e armários, certamente, estão sempre cheios do que comer e beber. Onde as TVs são modernas. Onde o sinal de Wi-Fi não dá pipoco e onde cada filho tem seu celular, tablet, notebook e outras coisas mais da tecnologia que cercam os mais abastados de nossa cidade.
Entre relatos feitos pelas manifestantes nas redes sociais e no grupo de Whatsapp que criaram para “mobilizar” a classe que representam, há quem reclama que precisam das escolas abertas porque as pagam para seus filhos por necessidade. Que não terão com quem deixar as crianças nesse período, por isso precisam que as escolas particulares se mantenham abertas.
Não vimos nestes protestos quem brigasse na porta da Prefeitura ou da casa do prefeito para que as escolas públicas também permaneçam abertas, para que muitas crianças tenham o que comer ao menos no período em que nelas estiverem.
Daí, refletimos sobre a seguinte questão: Estas mães, de fato, não têm com quem deixar seus filhos? Ou estariam elas mais preocupadas com os altos valores de mensalidades cobrados pelas escolas particulares de Araçatuba? Ou estariam, mesmo, preocupadas com a questionável qualidade de ensino das aulas on-line?
São perguntas simples que poderiam ser respondidas por estas mães protestantes. Com um pouco mais de clareza e, por que não, verdade. Até porque, aqui, neste texto, nem questionamos se estas doces mães estão ou não preocupadas com os próprios filhos num momento em que vemos a Covid-19 levar para as UTIs dos hospitais cada vez mais crianças e jovens.
Não estamos questionando o amor destas mães pelas vidas de seus filhos. Estamos, apenas, tentando entender se os protestos foram motivados mais pela dor que atinge os bolsos que, propriamente, os corações.