
Analisemos a seguinte situação: você encontra uma pessoa conhecida na rua, conversa com ela, mas quando a vê novamente no mesmo dia, numa festa, ela finge que não te conhece. Por que isso ocorre? A sociologia pode explicar o porquê disso.
Eduardo Giannetti, no livro “Trópicos Utópicos”, Editora Companhia das Letras, discorre sobre o ser e o parecer de forma bem interessante. Nas relações pessoais de amor e amizade, no trabalho e no social há sempre mais coisas que pensamos do que expressamos.
Cita o autor acima Volteire (filósofo iluminista francês), com a frase: “os homens inventaram a linguagem com o intuito de ocultar seus pensamentos”. É fato.
Na vida prática haverá sempre uma distância entre aquilo que é ser – aquilo que genuinamente pensamos, e o parecer – aquilo que efetivamente externamos.
Muitas vezes agimos como se estivéssemos de máscara, nos ocultando dos outros ou até de nós mesmos.
São os papéis que a sociedade nos impõe, que faz com que deixemos de nos reconhecer e até busquemos uma terapia.
Giannetti menciona Kant (filósofo prussiano): “quanto mais civilizados se tornam os homens, mais eles se tornam atores; eles desejam montar uma cena e fabricar uma ilusão”.
Existe, assim, uma linha muito tênue entre a falsidade – que é o contrário à verdade, e o exercício de um “papel social”.
A hipocrisia ou a dissimulação não são equivalentes a um papel social. O equilíbrio entre o voluntário – aquilo que se pensa, e o artificial – como exteriorizo o pensamento, é o ideal para a convivência consigo mesmo e com terceiros.
É certo que, não é necessário dizer sempre o que realmente se sente, mas também não se pode ocultar de todo o pensamento ou o sentimento, senão o “eu” seria anulado.
Em síntese, podemos, assim, exercer os diversos papéis que a sociedade nos impõe para vivermos de forma civilizada, mas nem por isso precisamos ser hipócritas.
Adelmo Pinho é promotor de Justiça em Araçatuba (SP).