O Mito de Sísifo é uma obra (livro) de AlbertCamus, filósofo, escritor e jornalista franco-argelino do século XX, conhecido por suas contribuições à literatura e ao pensamento filosófico. Ela foi publicada em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, período em que o escritor vivenciava a ocupação da França, uma situação excepcional ou absurda.
Camus inicia essa obra com a seguinte reflexão: “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia”. O absurdo e o suicídio são assuntos recorrentes nesse ensaio. O absurdo tem origem através de comparações. Exemplifico: numa situação de paz e normalidade, promover-se a guerra é algo absurdo.
Camus cita Chestov, filósofo existencialista russo, com o seu pensamento do absurdo fundamental de toda a existência (segundo ele): “Eis Deus: devemos remeter-nos a ele, mesmo que não corresponda a nenhuma das nossas categorias racionais”.
Chestov, com essa afirmação, propôs que a racionalidade se contrapõe a um Deus ou ao Divino. Camus defende que pensar “é reaprender a ver, dirigir a própria consciência, fazer de cada imagem um lugar privilegiado”. Os métodos do pensamento, para ele, são dois: o psicológico e o metafísico.
Sobre o sentido da vida - e se ela deve ter um sentido para ser vivida -, Camus não propõe o suicídio, mas sim a revolta. Para ele, a revolta e a consciência da finitude são elementos para se contrapor à morte. A revolta é que dá o valor à vida. Determinar ou traçar metas, como tentar ser feliz, amar, fazer o bem, são maneiras de revolta.
O absurdo e o acréscimo de vida, para Camus, não dependem da vontade do homem, mas do seu contrário, que é a morte. A tudo isso ele denomina de absurdo. Três consequências dele (absurdo): a revolta, a liberdade e a paixão.
Penso, como já escreveu Nietzsche: que a vida vale a pena, como para se promover a virtude, a arte, a música, a razão, o espírito, ou mesmo algo louco ou Divino.
Nietzsche vai mais longe no aspecto da absurdidade, ao afirmar: “Temos a arte para não morrer ante a verdade”.
Para Camus, “pensar é antes querer criar um mundo”. Sobre o título Mito de Sísifo, dado por Camus a essa obra, ele se reporta à lenda da mitologia grega, que conta que Sísifo, por afrontar os deuses, foi condenado a rolar eternamente uma pedra colina acima, apenas para, ao chegar ao topo, rolá-la novamente para baixo; um castigo eterno e absurdo, portanto, por ter Sísifo enganado “a morte” e desafiado Zeus, “deus dos deuses”.
Essa lenda mitológica, assim, foi usada por Camus nesse ensaio (Mito de Sísifo) para discutir o absurdo da existência humana, em especial, creio, se desprovida de fé ou de algo Divino (metafísico).
Penso, ao escrever sobre essa obra existencialista (corrente filosófica do existencialismo), sobre a importância de se ler de tudo um pouco, para diminuir a escala da ignorância. O conhecimento, por sua vez, é sempre libertador, e não afrontoso ou perigoso. O pensar, sem “amarras” ou dogmas, faz toda a diferença para a formação da opinião isenta e própria.
Disse Nelson Rodrigues, com muita propriedade: “Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais usado um raciocínio próprio”. Sobre a obra em questão, enfim, penso que a razão (racionalidade), o conhecimento e a fé não são excludentes, diferentemente do que propôs Chestov, sob a ótica existencialista. A vida, por si, enquanto tema central do existencialismo, é uma singular oportunidade, que não deve ser desperdiçada.
Adelmo Pinho é promotor de justiça em Araçatuba (SP), articulista, escritor e membro da Academia Araçatubense de Letras (ALL).
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)

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