A palavra “tacocracia” possui origem etimológica no termo grego tákhos, que significa rapidez. Chama a atenção que há poucas décadas o ritmo e o modo de vida do ser humano era muito diferente do atual.
Como questionou o filósofo Mário Sérgio Cortella, no livro “Não nascemos prontos”, ao se referir à tacocracia: a pressa não é mais inimiga da perfeição e devagar não se vai mais ao longe? O fato é que tudo hoje tem que ser resolvido rapidamente, a qualquer custo.
A reflexão é se queremos viver a vida dessa maneira ou não? E, se não, como agir, se as pessoas adotaram a tacocracia, fenômeno que pode ser denominado vulgarmente de “correria”?
Vida saudável e “correria” não se harmonizam. O ser humano moderno está refém não só do tempo cronológico, sua criação, como também de aparelhos eletrônicos, como celulares e similares.
A pessoalidade e a interação, que são da essência do ser humano (ser social – Aristóteles), estão sob risco nesse cenário.
Jovens optam por jogos eletrônicos e deixam de brincar como antes, já que o ambiente artificial domina o natural.
A opção por alimentação rápida, “fast-food”, foi adotada mundialmente, porque não se tem mais tempo para preparar uma boa refeição. O efeito colateral disso são doenças, como a obesidade originada pela ingestão de alimentos não-naturais e pelo vício de se comer muito rápido, sem a digestão necessária.
Mais grave, ainda, é que a tacocracia faz com que a família tenha pouco tempo para se reunir, porque os compromissos da vida moderna e célere deixam a agenda lotada. A família, assim, ficou relegada a segundo plano. A preocupação é que, sem a interação familiar, como compartilhar os problemas ou mesmo a alegria?
Por tudo isso o ser humano caminha para um isolamento social, refém de ferramentas tecnológicas e de um “mundo acelerado”, enquanto talvez a depressão possa ser a principal doença nas próximas décadas. Certamente algoritmos ou “mundos artificiais” (metaverso) criados por bilionários da tecnologia não resolverão a solidão humana e suas dores emocionais, mas sim a psiquiatria. A tecnologia traz benefícios, mas também possui efeitos nocivos.
Cabe-nos, assim, reagir a esse fenômeno. Dentro do possível, devemos dizer não à essa “ditadura da velocidade” (expressão usada por Cortella numa entrevista sobre esse fenômeno).
Recomendável, enfim, adotar-se um hábito saudável de vida, simples e não acelerado, que não deixe a vida passar, sem ter passado por ela. É a arte de viver a vida (livro de Pierre Weil) no presente.
O poeta Araçatubense Rafa José, na obra “Poesia, a terapia do meu dia”, num de seus belos e inspirados poemas, discorreu com maestria sobre como aproveitar bem o tempo, de forma simples e natural: “Pise na grama. Despreze a rede social o e-mail, o telegrama, esqueça o que tem na TV qualquer que seja o programa e sinta seus pés tocarem a grama ...”.
Adelmo Pinho é promotor de Justiça em Araçatuba (SP).
(Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação)