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DESABAFO... 'PIOR É A GENTE NESSE TRABALHO E VENDO AS PESSOAS FAZENDO CHACOTA'

Secretária Carmem Guariente fala sobre a crise da Covid-19 e o desdém dos negacionistas

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A Saúde em Araçatuba está, definitivamente, no seu limite. Em uma contundente entrevista concedida ao radialista Marco Serelepe, da rádio Nova Brasil, na manhã desta sexta-feira (12), a responsável pela pasta no município, Carmem Guariente, desabafou e deixou bastante evidente o esgotamento físico e psicológico enfrentado por todos os profissionais que estão atuando no combate à Covid-19 no município.

Num misto de nervosismo e emoção, com a voz trêmula, Carmem colocou para fora, nos cinco minutos finais da entrevista, o que, certamente, pensam os profissionais da área que, além das dificuldades que estão tendo para salvar vidas de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, são obrigadas a lidar com o descaso, o desrespeito e a desumanidade de quem desdenha de uma doença tão grave e que a cada dia mata mais pessoas não só em Araçatuba, mas no Estado de São Paulo e por todo Brasil.

“Não pense em leito, pense em ter distanciamento, ficar em casa, usar máscara. Não sair a não ser em extrema necessidade. Não adianta, eu posso aumentar dez leitos, vou precisar de vinte, vou precisar de trinta. Se cada um não fizer sua parte não adianta”, disse a secretária responsável por conduzir a Saúde em Araçatuba num período tão crítico. Nós estamos esgotados. Faz um ano que estamos nessa epidemia dessa forma, trabalhando diariamente, noturnamente. Só que chega uma hora que as coisas se esgotam”.

E não bastasse o esgotamento, Carmem não esconde sua revolta com quem não se preocupa com sigo próprio, muito menos com as pessoas para quem pode passar um vírus de tamanha agressividade que não tem escolhido vítimas. “O pior é a gente nesse trabalho e vendo as pessoas fazendo chacota. Chacota de usar máscara. Chacota de distanciamento. E depois vêm pedir leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, diz Carmem, em um claro tom de revolta.

Que prosseguiu ao falar sobre pessoas que, mesmo com todo o desdem para com o problema chamado Covid-19, ainda se coloca no direito de exigir. “Olha, gente, para com isso. Nosso país não previu vacina. Não previu em tempo adequado. Não é o município. O município tem equipe para vacinar. Todo mundo era contra a vacina e parece que quando viu a vacina, aí caiu a… Olha, agora, então, eu preciso vacinar. Que é isso?”.

A comandante também falou de vacinação e reforçou a previsão de dias ainda mais sombrios pelo menos até o final do mês. “Nós sempre fomos um país modelo em vacina e assistência. O que nós estamos vivendo não é possível. Não é possível o descaso que estamos vivendo em termos de governo federal. Não é possível”, desabafa. “Eu tenho 35 anos de (serviços em) Saúde, nunca vi uma situação dessa. Acho que eu me lembro de alguma situação dessa no tempo da ditadura”, afirma. “Então, chega gente, chega. Pessoas vão morrer muito mais. Até o dia 31 a coisa vai ficar pior. Não dá para entender como as pessoas não conseguem seguir as normas. Não dá”.

Ela pediu compreensão a quem precisa de seus estabelecimentos comerciais para sobreviver. “Tem dinheiro envolvido? Eu quero abrir meu comércio? Tudo bem, nós também dependemos da abertura do seu comércio para recolher imposto para manter a Prefeitura funcionando. Mas o momento, agora, se cada um não fizer a sua parte, não teremos gente para fazer”, observa. “A situação não é de palavras moles. A situação é essa”.

E falou da necessidade de união entre os setores da Saúde no município para seguir no enfrentamento à Covid-19. “Vamos sentar, nos organizarmos e fazer o melhor para nossa população. Como sempre fizemos. As pessoas não percebem. Não percebem”, diz. “Tudo que a gente tem de condições de trabalho, de remanejar, nós temos feito.

Carmem destaca o drama pessoal dos profissionais na luta contra o novo coronavírus. “Não é só a Secretaria de Saúde, é a Santa Casa incansável, o pessoal da enfermagem fazendo o possível, médico dormindo lá, nem sai de lá. A gente reconhece o esforço de todos. Mas tem limite, gente. Nós não somos de ferro. Não tem equipamento pra todo mundo”, afirma.

E encerra com uma cobrança contundente ao governo federal. “E se há alguém que a gente tem a clamar no momento é o governo federal, para que assuma sua função. Ninguém tirou autoridade do governo federal. O supremo não tirou a autoridade do governo federal. A autoridade dele está dada constitucionalmente. Assuma a sua tarefa. Assuma o seu papel. Para de mimimi, como a gente diz”.

Assista ao desabafo de Carmem Guariente no final da entrevista concedida ao radialista Marco Serelepe, pela rádio Nova Brasil:

 


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