O casal preso por matar e esquartejar o advogado Ronaldo César Capelari, de 53 anos, em uma casa do bairro Água Branca, no dia 14 de janeiro deste ano, foi condenado a penas que, somadas, chegam a 54 anos e 6 meses de detenção. A sentença sobre o caso foi proferida no último sábado (14), pelo juiz Roberto Soares Leite, da 1ª Vara Criminal de Araçatuba.
De acordo com a decisão judicial, a pena maior foi imposta a Jonathan de Andrade Nascimento, de 21 anos, que matou o advogado a marteladas na cabeça e esquartejou seu corpo em partes que foram encontradas em sacos de lixo dentro do manheiro do imóvel.
A ele, a pena imposta é de 29 anos e 8 meses de prisão a ser cumprida, inicialmente, em regime fechado. Jonathan cometeu o crime após sua namorada, Laís Lorena Crepaldi, de 20 anos, atrair o advogado ao imóvel onde ocorreu o crime, para o que seria um programa sexual e acabou se transformando em um dos assassinatos mais brutais já registrados em Araçatuba.
Laís sofreu duas condenações. Uma delas com pena de 23 anos e 8 meses pelo crime de roubo seguido de morte. A segunda, com punição de 4 anos e 2 meses de reclusão se deve ao fato de ter cometido denunciação caluniosa, uma vez que, após o corpo ser encontrado, ter acusado três rapazes que moravam no mesmo bairro na ocasião como responsáveis pelo assassinato bárbaro. Ela e o namorado estão detidos em presídios da região.
UM ROUBO QUE NÃO DEU CERTO
De acordo com as investigações da Polícia Civil de Araçatuba, que resultaram na instauração de processo e condenação do casal, Laís Lorena conhecida o advogado e mantinha contatos com ele há pelo menos quatro anos antes de o crime ser executado.
A jovem e o namorado tinham a intenção de roubar a caminhonete de Capelari, uma S-10 de cor branca. Para isso, ela atraiu a vítima até o local do crime e sabia que o advogado levaria consigo pelo menos R$ 200,00 em dinheiro. Quantidade que foi encontrada dentro de uma pasta, num guarda-roupas da casa de Jonathan, no bairro Umuarama. A localização do dinheiro configura a materialidade do crime de latrocínio (roubo seguido de morte), o que pesou na sentenção imposta ao casal.
DESESPERO OU AMADORISMO?
Ao revelar detalhes do crime, o delegado Paulo Natal, responsável pelas investigações, disse no decorrer do caso que Laís Lorena e Jonathan não demonstram profundo arrependimento pelo que fizeram. “A impressão que dá é que eles não têm noção da gravidade do fato”, chegou a dizer o após a prisão dos réus.
Isso, por conta da frieza como agiram a partir do momento em que Ronaldo Capelari adentrou o imóvel para o qual foi atraído. Ele estacionou a caminhonete em frente a casa e Laís Lorena o esperava no portão.
Juntos, o advogado e a jovem entraram no imóvel. Escondido e com um martelo em mãos, o namorado da “isca” que fisgou o profissional do direito, acertou a cabeça de Ronaldo Capelari por duas vezes. O ferimento fez com que o homem caísse ao chão e que sangue espirrasse pelo imóvel.
A partir dessa situação, Laís Lorena e Jonathan teriam decidido acabar de vez com a vida do advogado, que, inconsciente, gemia de dor ao chão da residência. Foi quando a dupla tapou a boca da vítima com uma fita adesiva, a encapuzou e, já dentro do pequeno banheiro existente no local, executou o crime de homicídio com facadas nas costas e no pescoço de Ronaldo.
DESESPERO E FUGA
Após a constatação de que o advogado estava morto, a jovem que o atraiu acabou fugindo da casa. Jonathan ficou sozinho no local com o cadáver. Como já era noite de uma segunda-feira – pelo menos uma hora após o advogado ter saído da casa onde morava com a família, no condomínio Delta Park, às 19h30, alegando que iria a uma academia em bairro próximo – o rapaz tentou colocar o corpo da vítima na caminhonete, usando para isso uma corda com a qual amarrou o cadáver pelas mãos e o pescoço, podendo assim arrastá-lo até o veículo.
Ainda conforme a polícia, o rapaz chegou a usar um tampão de um espelho para improvisar uma rampa na carroceria da caminhonete. Ainda assim, devido ao tamanho e peso de Ronaldo, optou por sair com o veículo do advogado e abandoná-lo em uma estrada a cerca de dois quilômetros do “abatedouro”, já no município de Birigui.
Jonathan contou à Polícia Civil que voltou a pé pela estrada e que a partir de um determinado momento, cortou caminho por uma área de pastagem. Sem conseguir desovar o corpo, o rapaz esperou até a terça-feira para tentar novas formas de dar fim aos restos mortais do advogado.
CARRETINHA E FERRAMENTAS DO PAI
A frieza do namorado fez com que ele chegasse a pedir emprestada, ao próprio pai, uma carretinha, sob a desculpa de que a usaria para tirar entulhos da casa de Laís Lorena. Como o genitor se ofereceu para ajudá-lo no serviço, o rapaz acabou inventando desculpas para desistir de usar o utilitário.
Entrava em ação, então, o plano macabro de esquartejamento. Tanto que a Polícia Civil juntou no inquérito imagens que comprovam que os criminosos estiveram em um estabelecimento comercial para comprar sacos plásticos e também nota fiscal referente à aquisição de luvas cirúrgicas.
Apesar de não ter conseguido a carretinha, Jonathan pegou mangueira, ferramentas, facas e um serrote pertencentes ao próprio pai, usados no esquartejamento do advogado. Serviço que, segundo a polícia, foi executado por cerca de uma hora e meia, na tarde da terça-feira (14), quando toda a cidade já tinha conhecimento do desaparecimento de Ronaldo Capelari e o conhecimento de que sua caminhonete havia sido encontrada próximo a uma mata a pouca distância da casa de Laís Lorena.
As partes do corpo do advogado foram encontradas na noite de terça-feira, pela Polícia Militar, após denúncia de uma testemunha que viu um rapaz manobrando a caminhonete S-10 no local do crime. Os restos mortais de Ronaldo Capelari foram achados divididos em três sacos plásticos. A intenção da dupla era ter condições de carregá-los, a pé, até um lugar qualquer naquela região da cidade.
SEM MÃOS
No roteiro macabro do crime cometido por Laís Lorena e Jonathan, um fato intrigou a Polícia Civil: as mãos de Ronaldo foram decepadas, e a informação que se tem é de que apenas uma delas teria sido encontrada.
Segundo relatou Jonathan em depoimentos, as mãos do advogado teriam sido jogadas no ribeirão Baguaçu e arrastadas por conta da correnteza. A finalidade desse ato sórdido seria dificultar a identificação da vítima, caso o corpo dilacerado fosse encontrado se, assim, tivessem obtido sucesso nos planos de desová-lo.