Personagem de um caso policial emblemático em Araçatuba, no ano de 2014, envolvendo denúncia de tortura contra a própria enteada de 3 anos na época, e que resultou em condenação em primeira instância que dois anos depois acabou sendo revertida em absolvição pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o empresário Maurício Morais Scaranello, de 41 anos, morreu na madrugada deste sábado (27) em um hospital particular da cidade.
Ele estava internado desde o dia 21 de fevereiro e o diagnóstico da morte foi Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A reportagem do 018 News confirmou o óbito do empresário com fontes da área de saúde do município e também com a funerária contratada pela família para fazer o sepultamento, que estava marcado para as 14h deste sábado.
Ainda de acordo com o que apurou a reportagem, Scaranello estava intubado e respirando com ajuda de aparelhos. Apesar de todos os procedimentos adotados pela equipe médica, ele não resistiu aos danos causados pelo novo coronavírus em seu organismo.
CONDENADO E ABSOLVIDO
O caso envolvendo o empresário, que morreu na madrugada deste sábado vítima da Covid-19, chegou a ganhar repercussão nacional por conta do que, inicialmente, foi apurado pela Polícia Civil de Araçatuba. Investigadores reuniram um conjunto de materiais que o levaram a ser indiciado por crime de tortura.
O empresário foi condenado em agosto de 2015, em primeira instância, a uma pena de 4 anos de prisão. A mãe da criança, Sara de Andrade Ferreira, que na época tinha penas 21 anos, também foi condenada a 3 anos e quatro meses, porém para cumprimento em regime aberto.
O caso teve reviravolta judicial em agosto de 2016, quando desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo entenderam que as provas apresentadas (vídeos, laudos da perícia e depoimento de testemunhas) não comprovaram eventual tortura contra a criança e que por conta disso o casal não cometeu nenhum crime, sendo inocentado de todas as acusações.
Scaranello foi solto do presídio onde estava em maio de 2016. O Ministério Público chegou a entrar com recurso contra a decisão que absolveu a ele e a mãe da menina, mas foi negado pela Justiça, que entendeu que o caso estava encerrado.
O QUE ACONTECEU
O empresário foi preso na casa onde morava, em um condomínio de luxo de Araçatuba, em 2014. A polícia disse, na ocasião, que a menina estava trancada sozinha dentro de um quarto e que encontrou fotos da enteada no celular dele. Os policiais chegaram até o local depois que uma denúncia anônima alertou para a existência de vídeos de possíveis torturas contra a criança.
No celular do empresário, alguns vídeos com esse conteúdo foram localizados. Em um deles, a menina aparecia andando com as pernas amarradas com uma fita adesiva. Em outro, comendo cebola achando que era maçã. Num outro, pedindo para o padrasto deixá-la dormir. Na época dos fatos, a Polícia Civil confirmou que mãe da criança também teria participação na gravação de alguns vídeos e por isso também foi presa.
Outra gravação mostra a menina dormindo no carro, presa pelo cinto de segurança. Como a cabeça dela balança de um lado para o outro, por causa do movimento do carro, o padrasto brinca falando que a menina ficou com sono após tomar uísque.
Scaranello prestou depoimento duas vezes e segundo informações da delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher, Luciana Pistori, o padrasto disse que os vídeos faziam parte de uma brincadeira. “O padrasto disse que era tudo uma brincadeira e em nenhum momento ele queria judiar da criança. Acho que ele tinha consciência das atitudes que tomou", afirmou a delegada na ocasião
A polícia divulgou na época mais vídeos da menina gravados pelo padrasto. Em um deles a criança chorava pedindo mamadeira, mas o empresário se recusava e dizia que só daria se ela o chamasse de "papai".
Em decorrência das acusações que pesaram sobre o empresário quando o caso veio a público, a enteada foi submetida a exames pelo IML (Instituto Médico Legal) que teriam apontado que a menina teve lesões causadas por cola de alta adesão. O documento chegou a confirmar o teor da denúncia que levou à prisão do empresário. Mas, em depoimento à polícia ao ser preso, ele afirmou que a existência de cola na menina era fruto de um "acidente".
Com a absolvição de Maurício Scaranello e da mãe da menina, Sara, que ficou com a sua guarda após sair da prisão, o caso acabou caindo em esquecimento. Os dois teriam se separado após todo o ocorrido. E todo o episódio volta a público agora pelo fato de o empresário ter sido mais uma das vítimas da Covid-19 em Araçatuba.
Com informações do G1 e TV TEM.