O assassinato do advogado Ronaldo César Capelari, de 53 anos, que chocou Araçatuba esta semana, se deu de forma muito mais macabra diante de tudo que chegou a ser noticiado até a entrevista coletiva que delegados da Polícia Civil que atuam no caso concederam na manhã desta sexta-feira (17).
Não bastasse o esquartejamento do corpo, o advogado, foi abordado de surpresa dentro da casa de Laís Lorena Oliveira Crepaldi, de 20 anos – chegou a ser noticiado anteriormente que ela teria 24 anos –, pelo namorado da jovem, Jonathan de Andrade Nascimento, 21 anos. O rapaz desferiu marteladas na cabeça de Ronaldo Capelari em um corredor entre a cozinha e o banheiro do imóvel. A partir daí, a dupla cometeu uma série de atos macabros que fazem desse um dos crimes mais bárbaros já registrados em Araçatuba.
Com a cabeça sangrando, caído ao chão e gemendo de dor, o advogado teve a boca tapada por uma fita adesiva. Na sequência, o casal de namorados colocou um capuz em sua cabeça e o esfaquearam nas costas e no pescoço, lhe tirando a vida de forma derradeira.
As informações levantadas pela Polícia Civil, sob o comando do delegado Paulo Natal, causam espanto pelo fato de Laís Lorena e Jonathan não possuírem até então nenhum tipo de antecedente criminal e, apesar da falta de expertise no mundo do crime, terem elaborado um plano de assalto que terminou repleto de requintes de crueldade.
UM ROUBO QUE NÃO DEU CERTO
De acordo com a Polícia Civil, Laís Lorena conhecida o advogado há mais tempo do que havia, até então, sido noticiado. Os dois mantinham contatos há quatro meses e Ronaldo Capelari há havia estado no imóvel onde foi assassinado.
A jovem e o namorado tinham a intenção de roubar a caminhonete do advogado, uma S-10 de cor branca, modelo novo. Para isso, ela atraiu a vítima até o local do crime e sabia que Ronaldo Capelari levaria consigo pelo menos R$ 200,00 em dinheiro. Quantidade que foi encontrada dentro de uma pasta, num guarda-roupas da casa de Jonathan, no bairro Umuarama. “O dinheiro estava do jeito que ele (namorado) disse, em quatro notas de R$ 50,00”, disse um dos delegados que atuam nas investigações na coletiva desta sexta-feira.
A localização do dinheiro configura a materialidade do crime de latrocínio (roubo seguido de morte), o que deve fazer com que o casal seja julgado podendo pegar penas de 20 a 30 anos. Além de responderem por ocultação de cadáver, qualificadora que deve incrementar uma possível pena entre mais 1 e 3 anos de reclusão.
DESESPERO OU AMADORISMO?
Ao revelar detalhes do crime, o delegado Paulo Natal disse nesta sexta-feira que Laís Lorena e Jonathan não demonstram profundo arrependimento pelo que fizeram. “A impressão que dá é que eles não têm noção da gravidade do fato”, afirma.
Isso, por conta da frieza como agiram a partir do momento em que Ronaldo Capelari adentou o imóvel para o qual foi atraído. Ele estacionou a caminhonete em frente a casa e Laís Lorena o esperava no portão.
Juntos, o advogado e a jovem entraram na casa. Escondido e com um martelo em mãos, o namorado da “isca” que fisgou o profissional do direito, acertou a cabeça de Ronaldo Capelari por duas vezes. O ferimento fez com que o homem caísse ao chão e que sangue espirrasse pelo imóvel.
A partir dessa situação, Laís Lorena e Jonathan teriam decidido acabar de vez com a vida do advogado, que, inconsciente, gemia de dor ao chão da residência. Foi quando a dupla tapou a boca da vítima com uma fita adesiva, a encapuzou e, já dentro do pequeno banheiro existente no local, executou o crime de homicídio com facadas nas costas e no pescoço de Ronaldo Capelari.
DESESPERO E FUGA
Após a constatação de que o advogado estava morto, a jovem que o atraiu para a morte acabou fugindo da casa pouco tempo após tentar ajudar o namorado a dar fim no cadáver. Ela teria sido buscada por uma pessoa que ainda está sendo procurada pela polícia. Jonathan ficou sozinho no local com o cadáver.
Como já era noite de segunda-feira – pelo menos uma hora após o advogado ter saído da casa onde morava com a família no condomínio Delta Park, às 19h30, alegando que iria a uma academia em bairro próximo – Jonathan tentou colocar o corpo da vítima na caminhonete, usando para isso uma corda com a qual amarrou o cadáver pelas mãos e o pescoço, podendo assim arrastá-lo até o veículo.
Ainda conforme a polícia, o rapaz chegou a usar um tampão de um espelho para improvisar uma rampa na carroceria da caminhonete. Ainda assim, devido ao tamanho e peso de Ronaldo Capelari, optou por sair o veículo do advogado e abandoná-lo em uma estrada a cerca de dois quilômetros do “abatedouro”, já no município de Birigui.
Jonathan contou à Polícia Civil que voltou a pé pela cidade e que a partir de um determinado momento, cortou caminho por uma área de pastagem. Sem conseguir desovar o corpo, o rapaz esperou até a terça-feira para tentar novas formas de dar fim aos restos mortais do advogado.
CARRETINHA E FERRAMENTAS DO PAI
A frieza do namorado fez com que ele chegasse a pedir emprestada, ao próprio pai, uma carretinha, sob a desculpa de que a usaria para tirar entulhos da casa de Laís Lorena. Como o genitor se ofereceu para ajudá-lo no serviço, o rapaz acabou inventando desculpas para desistir de usar o utilitário.
Entrava em ação, então, o plano macabro de esquartejamento. Tanto que a Polícia Civil diz ter imagens que comprovam que os criminosos estiveram em um estabelecimento comercial para comprar sacos plásticos e também nota fiscal referente à aquisição de luvas cirúrgicas.
Apesar de não ter conseguido a carretinha, Jonathan pegou mangueira, ferramentas, facas e um serrote pertencentes ao próprio pai, usados no esquartejamento do advogado. Serviço que, segundo a polícia, foi executado por cerca de uma hora e meia, na tarde da terça-feira (14), quando toda a cidade já tinha conhecimento do desaparecimento de Ronaldo Capelari e o conhecimento de que sua caminhonete havia sido encontrada próximo a uma mata a pouca distância da casa de Laís Lorena.
As partes do corpo do advogado foram encontradas na noite de terça-feira, pela Polícia Militar, após denúncia de uma testemunha que viu um rapaz manobrando a caminhonete S-10 no local do crime. Os restos mortais de Ronaldo Capelari foram achados divididos em três sacos plásticos. A intenção da dupla era ter condições de carregá-los, a pé, até um lugar qualquer naquela região da cidade.
SEM MÃOS E O CELULAR
No roteiro macabro do crime cometido por Laís Lorena e Jonathan, o que ainda intriga a Polícia Civil é o fato de o telefone celular do advogado ainda não ter sido localizado. Mais que isso, as mãos de Ronaldo Capelari decepadas, também não foram achadas.
Segundo relatou Jonathan em depoimentos, assim como o celular, as mãos do advogado teriam sido jogadas no ribeirão Baguaçu e arrastadas por conta da correnteza. A finalidade desse ato sórdido seria dificultar a identificação da vítima, caso o corpo dilacerado fosse encontrado se, assim, tivessem obtido sucesso nos planos de desová-lo.
A Polícia Civil, que chegou a prender três rapazes que moram no bairro Água Branca, apontados por Laís Lorena como participantes do assassinato, ainda não dá as investigações por encerrada. Os jovens detidos na noite de quarta-feira foram soltos nesta quinta-feira. No entanto, exames de DNA que serão feitos, assim como análises de impressões digitais podem levar a novas prisões assim que os resultados forem divulgados.
Na manhã desta sexta-feira, Laís Lorena foi levada para um presídio na cidade de Dracena, onde deverá cumprir, inicialmente, o restante de sua prisão preventiva de 30 dias com a possibilidade de prorrogação por igual período. Da mesma forma, Jonathan de Andrade Nascimento seguirá encarcerado na cidade de Pereira Barreto. No decorrer do inquérito policial, a Justiça ainda pode determinar a prisão preventiva dos dois, o que os deixaria sem prazo para sair de trás das grades.