Araçatuba
Anunciante
LITERATURA ESCRITORA DE ARAÇATUBA VENCE CONCURSO DE POESIA

Fernanda Colli foi primeiro lugar do concurso na 83º Semana Euclidiana, em São José do Rio Pardo

Anunciante

O escritor e professor Célio Pinheiro, mentor da AAL (Academia Araçatubense de Letras), quando chegou a Araçatuba, vindo de Lençóis Paulista, vivia falando da Semana Euclidiana de São José do Rio Pardo, que neste ano de 2021 celebrou sua 83ª edição, entre os dias 9 a 15 de agosto.

 

Grande admirador do escritor Euclides da Cunha, o professor mal sabia que em 1987, ano de sua chegada em Araçatuba, também era marcado pela chegada daquela que um dia ainda seria destaque na semana de homenagem ao escritor.

 

São José do Rio Pardo está quase na divisa com Minas Gerais, e é a cidade onde Euclides da Cunha escreveu "Os Sertões", há mais de 100 anos.

 

Na 83ª edição do evento Fernanda Colli, a escritora araçatubense, aquela menina que nasceu em 1987, foi primeiro lugar no Quarto Concurso de Poesias dentro da Semana Euclidiana, que contou com 865 participantes.

 

 

Atualmente, Fernanda além de poetisa é também presidenta do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Araçatuba e membro do Grupo Experimental da AAL. 

 

Filha de Cláudia Colli, cujo legado está intimamente ligado a cultura do município, Fernanda é uma mulher moderna, mãe de duas filhas, apaixonada por sua família e pela cultura caipira. Traços evidentes em suas obras.

 

Confira abaixo o poema que destacou a araçatubense em São José do Rio Pardo.

 

Mulher, jovem, preta, pobre, solteira, mãe, brasileira
Por Fernanda Colli

 

Perdi minhas roupas junto com meu espelho,
Minhas amigas não me chamam mais pra sair
A marca que tenho já não é a do batom vermelho,
Psiu, fale baixo, ele está a dormir.
Tentei ligar pro pai, só que ele não atende mais,
Minha mãe já me deu um prazo para me reorganizar
A professora me ligou ofereceu ajuda até, mas não sei...
Psiu, fale baixo deixe o menino ninar.
Desci a ladeira para comprar pão,
Sussurros e olhares a me fuzilar,
Amanhã talvez para o pão nem tenha mais um tostão,
Psiu, fale baixo, deixe o menino descansar.
Não tô mais me importando com minha vida,
Debutei no hospital com pessoas forçando minha barriga,
E da dor e do horror vi a coisa mais linda surgir,
É só por você meu filho, que continuo a seguir,
Virei número para estudos antropológicos
Tema de falas militantes, não militantes, conservadores, militar,
Mas a realidade é diferente, tô precisando de ajuda realmente,
Psiu, deixa o menino descansar.
Eu só queria uma oportunidade, não de sumir da cidade,
Mas talvez só de sair,
Não é pra balada que quero, é pra entregar currículo, começar do zero,
Mas psiu, deixa o menino dormir.
Eu tô aqui pensando lá na proposta do chefe,
Eu ganho escolinha, fralda, comida e onde ir,
É só eu me corromper para o outro lado,
Já não sei, mas deixa o menino dormir.
Não me importa em ser estatística,
Zuada, apontada como egoísta,
Porque meu egoísmo se resume em poder conseguir,
Nem que eu sucumba, apanhe, trafique, não durma, O mundo é duro mais quero que você sonhe,
Igual aos sonhos que um dia eu tive em viver longe, partir,
De ser médica, estudar, ter uma grana boa, casa pra morar,
Mas sou preta, pobre, jovem mãe solteira, E já sei que viva não saio mais daqui,
E por isso quero que sonhe, sonhe bem alto além do horizonte,
Além das estatísticas, da bala, da fome, do tráfico, milícia,
Que o resto que resta de meu resto de vida Mostre pra você que o mundo é muito maior e melhor que isso aqui,
Quero que estude, que ame, que seja, que exista,
Seja diferente dessa tal estatística,
E te darei tudo o que não tive, para que entenda Que só amor salva e nos faz resistir.
Vou lutar por você, filho meu,
Psiu, falo baixinho, agora pode dormir.

 


O 018News não se responsabiliza pelas notícias de terceiros.
Copyright © 2024 018News. Todos os direitos reservados.