Apontado pela Polícia Civil e o Ministério Público como líder de uma organização criminosa que teria desviado cerca de R$ 500 milhões da Saúde Pública por meio de Organizações Sociais ligadas às santas casas de Birigui e Pacaembu, o médico anestesista Cleudson Garcia Montali voltou a ser preso na tarde deste domingo (02), após o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), revogar decisão que mudava o regime de prisão do acusado, de fechado para domiciliar, conforme decisão proferida em 12 de abril.
O retorno de Cleudson à cadeia, pouco mais de duas semanas após ser colocado pelo ministro em prisão domiciliar, se deve ao fato de o anestesista ter apresentado à Justiça laudos médicos falsificados, como forma de sustentar que estaria com a saúde debilitada e que corria risco de morte por não ter tratamento adequado na cadeia.
Cleudson, que deveria permanecer em sua casa, também em Birigui, durante todo o tempo que permanecesse em prisão domiciliar, foi localizado na residência do sogro dele, na cidade de Clementina, onde policiais civis cumpriram mandado expedido pela Justiça, o capturaram e de onde o conduziram ao Plantão Policial de Araçatuba.
O anestesista deve ser encaminhado até esta segunda-feira (03) a um dos presídios da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) na região de Araçatuba. Pelo fato de ter falsificado documento para justificar sua transferência ao regime de prisão domiciliar, Cleudson perderá o direito de voltar ao CR (Centro de Ressocialização) local, que é considerada uma unidade para detentos de menor periculosidade.
BUSCAS EM OPERAÇÃO
No último dia 19 de abril, dias após Cleudson ter “ganhado as ruas”, a Polícia Civil realizou uma nova etapa da Operação Raio X, na qual cumpriu, conforme determinação judicial, mandados de busca e apreensão nas residências de dois médicos de Birigui, além de um consultório e um laboratório da cidade que teriam dado respaldo o anestesista em pedido de habeas corpus feito ao STF.
Na ocasião, foram apreendidos computadores, celulares e documentos que levaram a Polícia Civil e a Justiça a constatarem que os laudos apresentados por Cleudson e sua defesa haviam sido falsificados. Diante dessa confirmação, o STF foi comunicado da situação e, na última sexta-feira (30), a decisão em favor do anestesista foi revogada pelo próprio Gilmar Mendes.
Alterações em exames de sangue e a declaração de um médico que teria procurado a polícia afirmando que sua assinatura fora falsificada em documento que indicava ser Cleudson portador de anemia, embasaram o pedido de revogação da prisão domiciliar do anestesista.
A falsificação de documentos e a tentativa de enganar a Justiça podem complicar a situação de Cleudson Garcia Montalli, que é ré em três processos nas cidades de Birigui e Penápolis, por conta de desfalque milionário que teria sido praticado por uma organização criminosa da qual era “comandante” em serviços de Saúde prestados em cidades de pelo menos quatro estados brasileiros.
CIRURGIA BARIÁTRICA
Submetido a uma cirurgia de redução de estômago anos atrás, e sem os devidos acompanhamentos e tratamentos comuns a pacientes que se submetem a esse procedimento para perderem peso ou mesmo para fazer o controle do diabetes, Cleudson estaria, no presídio, sofrendo de pelo menos 11 problemas de Saúde que, segundo atestavam laudos médicos por ele apresentado em pedido de habeas corpus, poderiam levá-lo à morte.
Entre os referidos problemas indicados nos documentos, Cleudson estava sofrendo de amnésia dentro do CR de Araçatuba, o que significa que o anestesista passou a ser acometido de “falta de memória” depois que foi preso.
Os laudos médicos, obtidos de profissionais particulares, ainda apontavam que o anestesista também teria sido diagnosticado com “desnutrição, caquexia (perda de tecido adiposo e musculatura óssea), sarcoidose (crescimento de nódulos inflamatórios em diversas partes do corpo), fraqueza, perda de massa muscular, anemia, gastralgia (dor de estômago), depressão, raciocínio lento e dormência de membros inferiores”.
Situação que levou o ministro Gilmar Mendes a acreditar na defesa do anestesista e determinar, baseado nos referidos laudos e por considerar que as anotações de médico da administração penitenciária do CR não ofereciam “diagnóstico” nem “prognóstico” do quadro clínico do então detento, que Cleudson fosse transferido para o regime de prisão domiciliar.
Diante do novo cenário em que se encontra o anestesista, o representante do STF, ao determinar sua volta a um presídio, orienta às autoridades judiciais que Cleudson seja submetido a nova bateria de exames para saber se realmente apresenta algum dos 11 problemas de saúde que levaram Gilmar Mendes a acreditar nas argumentações do ilustre anestesista.