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A Câmara de Araçatuba decidiu nesta segunda-feira (11) que a leitura de trechos da Bíblia Sagrada no início das sessões, uma prática adotada pela Casa no início da década de 90, não poderá ultrapassar o prazo de três minutos, conforme projeto apresentado pelo vereador Arlindo Araújo (PPS).
Tinha tudo para ser uma votação tranquila, uma vez que a proposta já havia sido aprovada em primeira discussão. No entanto, o debate travado entre os vereadores Almir Fernandes Lima (PSDB) e Arlindo Araújo (PPS) fez com que o assunto se arrastasse com direito a insultos e troca de farpas.
Arlindo, sem papas na língua, chamou Almir de “cara de pau” e “vassalo do prefeito” Dilador Borges (PSDB), ao confrontar colocações feitas pelo tucano durante nova discussão da proposta nesta segunda-feira.
Protagonista de uma leitura bíblica durante 7 minutos e 52 segundos meses atrás, motivo que levou Arlindo a propor a limitação de um tempo de três minutos para leituras de trechos da Bíblia, Almir iniciou o debate falando em “Estado Laico” e o cristianismo dos brasileiros, considerou descabido o projeto.
‘ESTADO LAICO’
O parlamentar tentou convencer seus colegas de legislatura a votarem contra a limitação do tempo se escorando em manifestações publicadas em jornais e redes sociais a respeito da proposta. “Está descaracterizando esta Casa. Está enxovalhando as atitudes desta Casa com relação a este projeto”, disse o tucano, sobre o que diz ter lido a respeito da limitação do tempo para leituras bíblicas.
Almir foi além em suas colocações. “Este projeto é um projeto inócuo. Vamos supor que um vereador ocupe a tribuna para fazer a leitura bíblica e ele ultrapasse os três minutos. O presidente vai apertar a campainha, ele não para. Como vai ser na prática? E vamos supor que não pare. Nós vamos penalizá-lo por isso? Já viram como essa Casa vai ser motivo de chacota no país inteiro a hora que ter uma reportagem, uma notícia no jornal dizendo que o vereador foi penalizado porque ele abusou da leitura bíblica? Tem lógica isso?”, questionou o tucano.
CONTRA A CASA
Arlindo, ao pedir para falar sobre o assunto, chegou a dizer que o projeto era bem claro e que simplesmente limita o tempo para leitura da Bíblia em três minutos, assim como todas as discussões que se têm na Casa.
“Infelizmente, existe uma habilidade muito grande do vereador Almir em deturpar as coisas e tentar jogar a população contra a Casa. Ele já fez isso durante a campanha eleitoral de forma injusta, de forma descabida. Chamava todo mundo de uma cambada, dizia que ia entrar aqui e fazer diferente. Que ia fazer e acontecer. Que ia tirar a lona do circo. Que quem ficava junto com o prefeito era puxa-saco, fazia parte de uma cambada. E hoje ele faz esse papel, esse papel de vassalo, de puxa-saco do prefeito, de defensor do prefeito”, disparou o pessebista.
No entendimento do parlamentar, muitas pessoas que se manifestaram sobre seu projeto são desinformadas, até mesmo por falta de leitura sobre o que de fato estava sendo proposto. “Li alguns comentários no jornal de gente que não leu (a proposta) perguntando se eu era ateu, se era filho do capeta ou qualquer coisa parecida, se era contra a Bíblia”, disse.
DETURPAR AS COISAS
Em seguida, o vereador do PPS disparou contra Almir. “Ele quer se projetar usando da religião, se projetar politicamente e eu me insurgi contra isso, ele é um tremendo cara de pau, essa é a verdade”, falou Arlindo. “Incitar os incautos e tentar deturpar as coisas para se parecer como um mártir, um santo, é muito ruim, é muito chato a gente ter que vivenciar. E para mim muito chato ter que falar essas verdades aqui. Não constrangedor, porque eu não tenho medo de ninguém. O que eu tenho que falar eu falo na cara do caboclo mesmo. Ele é um cara de pau, mesmo. Quer usar da religião para se aparecer. É isso. Todo mundo sabe disso”.
Após outros vereadores discorrerem sobre o tema, Almir voltou a falar e chegou a culpar o presidente da Câmara, Rivael Papinha (PSB), pelas acusações que lhe foram feitas. “O problema é comigo porque toda hora eu sou agredido de uma forma inaceitável e a presidência é condescendente, porque não é a primeira vez que ele (Arlindo) faz isso e o senhor não tira a palavra dele. O senhor está prevaricando. O senhor deveria tirar a palavra dele”, atacou. “Felizmente ou infelizmente, eu não desço onde as cobras rastejam, porque eu tenho bagagem intelectual, eu tenho educação, eu vivo a palavra e eu tenho berço que respeito muito”.
CONSCIÊNCIA TRANQUILA
Papinha, que antes do debate esquentar chegou a falar sobre seu descontentamento sobre colocações feitas em jornais e redes sociais sobre o posicionamento da Câmara a respeito da leitura bíblica, também ocupou espaço para se defender da acusação de Almir. “Quero deixar bem claro, quando o vereador Almir fala que estou prevaricando, que estou com a consciência bastante tranquila. Se acha que estou fazendo coisa errada, busca os caminhos legais. Vai lá e faça”, disse.
Após os ânimos se acalmarem, o projeto foi colocado em votação. Além de Almir, Márcio Saito (PSDB), Alceu Batista (PV) e Gilberto Batata Mantovani (PR) votaram contra a limitação de tempo. Denilson Pichitelli (PSL) e Antônio Edvaldo Dunga Costa (DEM) se ausentaram e não deram seus votos. Já os demais nove parlamentares foram favoráveis à proposta.
‘COMUNISTA NU’
Logo após sair derrotado, Almir pediu a palavra para justificar seu voto mas acabou usando o espaço para ler um dos itens que classificam comunismo e comunistas, conforme o livro “Comunista Nu”, lançado no Brasil em 1958. No caso, o item 28: “Eliminar e restringir a oração ou qualquer fase da expressão religiosa nas escolas sobre o fundamento de que viola o princípio de separação entre igreja e estado”.
PIADA DO ANO
A manifestação de Almir levou Arlindo a se pronunciar novamente, com tom de ironia. “Agora foi brincadeira. Agora é pra acabar. Se tem um caboclo aqui em Araçatuba que não é comunista, sou eu. Sou favorável à economia de mercado; li ‘O Capital’; acho o Karl Marx um débil mental, assim como todo mundo que segue as ideias dele. Agora, tentar imputar a mim o comunismo é pra acabar mesmo, né?”, desabafou.
Arlindo concluiu afirmando que não tem nada de comunista. “Sou totalmente contrário à filosofia do Karl Marx e os pensamentos dele, assim como ao marxismo e leninismo, e realmente sou totalmente favorável à economia de mercado, à meritocracia, sou um caboclo essencialmente capitalista, na acepção da palavra de que as pessoas consigam as suas coisas por mérito e pelo trabalho. Agora, tentar imputar a mim a pecha de comunista essa foi a piada do ano. Talvez a do século. Não tem outra maneira de definir isso”, disse.