Três mandados de busca e apreensão foram cumpridos por policiais da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Araçatuba (SP), na manhã desta terça-feira (11), com o objetivo de reunir elementos que auxiliem na investigação de documentos apresentados por médicos presos na Operação Raio X.
A operação, deflagrada em 2020, denunciou 70 pessoas pela prática dos crimes de organização criminosa, peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e fraude à licitação, atribuindo a cada um dos denunciados o tipo penal caracterizado por sua atuação.
Segundo informações da Polícia Civil, um dos mandados foi cumprido na casa do médico Lauro Henrique Fusco Marinho, em Birigui (SP), preso em setembro de 2020 durante a Operação Raio X. Os outros dois mandados foram cumpridos na casa e no consultório do irmão de Lauro, em Araçatuba.
Foram apreendidos objetos, documentos, celulares, computadores e valores que serão periciados pelo setor de inteligência da Deic. Lauro é investigado por integrar o grupo suspeito de desviar recursos da Saúde das prefeituras de Araçatuba e Birigui por meio de organizações sociais.
Segundo o delegado José Abonizio, as apreensões vão auxiliar nas investigações da legalidade dos documentos médicos apresentados pelo investigado. "Este é um braço que a investigação vem adotando, visando conferir a legalidade em relação aos documentos apresentados pelos investigados para conversão de prisão preventiva em prisão domiciliar frente ao STF", explica.
Na segunda-feira (10), o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou que um novo exame de saúde seja feito no médico. O despacho desta segunda-feira ocorreu quase um mês depois do STF entender que o acusado poderia deixar o Centro de Ressocialização de Araçatuba para ficar em prisão domiciliar. A medida foi tomada após a análise de um laudo médico apresentado pela defesa.
O também médico Cleudson Montali, apontado pela promotoria como líder da mesma organização criminosa, foi colocado em prisão domiciliar depois que o STF acatou um laudo apresentado pela defesa, que alegava problemas de saúde.
Contudo, dias depois, investigações da Polícia Civil apontaram que o laudo era falso e ele foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São José do Rio Preto (SP).
À TV TEM, a defesa de Cleudson Montali reiterou que o cliente alega inocência e que vai prová-la ao longo do processo. A defesa de Lauro não se posicionou.
COMANDO DO ESQUEMA
Investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Polícia Civil apontaram que a organização criminosa era liderada pelo médico Cleudson Garcia Montali. O anestesista, que foi diretor em várias unidades de saúde, chegou a ser homenageado com o título de cidadão Emérito nos municípios de Birigui e Agudos (SP).
Por meio da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Birigui e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pacaembu, Cleudson Montali celebrou contratos de gestão mediante licitações fraudulentas com o poder público para administrar a saúde de diversos municípios e desviando parte do dinheiro repassado por força do contrato de gestão às referidas Organizações Sociais.
As investigações descobriram um esquema de desvio de dinheiro público sofisticado por meio de contratos de gestão não apenas no município de Birigui, mas em diversos municípios do estado de São Paulo e também em outros estados.
Segundo o G1 apurou, a organização criminosa, mediante acordos previamente firmados com as prestadoras de serviços contratadas, desviou grande parte das quantias repassadas às Organizações Sociais, ora por meio de superfaturamentos, ora por meio de serviços não executados, sempre mediante emissão de notas frias.
Os atos criminosos ocorreram de maneira reiterada, sendo que parte do dinheiro desviado foi objeto de lavagem de dinheiro. Além dos crimes citados, as investigações apontaram também que os alvos da operação teriam praticado crimes de corrupção ativa e passiva, além de falsidades ideológicas.
INVESTIGAÇÃO
A investigação, que durou dois anos e culminou com a prisão de mais de 50 pessoas, apontou que as organizações sociais de Cleudson cresceram rapidamente e fecharam contratos em 27 cidades de quatro estados: Pará, Paraíba, Paraná e São Paulo.
Conforme a investigação, a quadrilha, que tinha a participação de políticos, desviou R$ 500 milhões, que deveriam ter sido investidos em hospitais e no tratamento da Covid-19.
Em muitas das vezes, os políticos estavam envolvidos para ajudar na primeira fase do esquema, o fechamento de contratos com o poder público. Em Agudos, um vereador foi preso suspeito de envolvimento no esquema.
Glauco Luiz Costa (MDB), conhecido como "Batata", teria recebido R$ 50 mil para votar pela cassação do então prefeito, Altair Francisco Silva (PRB), e influenciar os colegas na votação. A tentativa de afastar o prefeito é por ele ter rompido com o contrato de uma das Organizações Sociais de Cleudson.
Altair foi afastado duas vezes do cargo, mas conseguiu voltar após decisão da Justiça. Outros quatro vereadores da cidade também são investigados.
Segundo as investigações, no complô contra o prefeito, Cleudson conseguiu também que a Câmara de Agudos o homenageasse com o título de “Cidadão Agudense”, em 2019. Na ocasião, Batata discursou e disse que “era uma honra” receber o médico na Casa.
Após a reportagem do Fantástico, a Câmara de Agudos votou um pedido de instauração de processo de cassação contra o vereador preso, mas o pedido foi negado por 8 votos a 3. Outros políticos presos em São Paulo foram o Secretário de Saúde de Penápolis (SP), Wilson Carlos Braz, e o vereador de Birigui José Roberto Merino Garcia, conhecido como Paquinha.